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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

BIOSSÍNTESE MORFOANALÍTICA - GESTALTEN BIOLÓGICAS EXISTENCIAIS

BIOSSÍNTESE MORFOANALÍTICA



GESTALTEN BIOLÓGICAS EXISTENCIAIS





Palavra chave: Psicologia da Gestalt, Psicobiologia, Psiconeuroembriologia, Psicofisiologia, processo terapêutico, ciência e existencialismo.

J. Evilázio Lima





Conforme teorias científicas mais recentes, nós, seres humano, chegamos à nossa forma atual a partir da função e desenvolvimento de vários microorganismos existentes no “caldo” da terra primitiva, há aproximadamente bilhões de anos atrás.

Chegou-se à conclusão que, sob as influências de radiações cósmicas e intensas variações climáticas do nosso planeta em evolução, ocorreram grandes alterações físico-químicas nesta atmosfera primitiva, com o consequente surgimento das primeiras formas orgânicas (Alexander Oparin, 1936).

Estas bases da vida biológica (micróbios, vírus e outros pequenos seres) sofriam constantes mutações por modificações átomos-moleculares, culminando com advento do DNA, entendido hoje como repositório da vida biológica e da manutenção das espécies, assim a vida foi capaz de evoluir mesmo diante das intempéries ambientais.

Surgiram, então, os primeiros grupos e classes de seres vivos que, apesar de comportamentos similares (absorção e excreção) diferenciam-se quanto à forma e modo funcional, para sobrevivência, formando então, as primeiras colônias.

Deste continuum primordial da existência derivaram agregados mais complexos, e estes passaram a ser entendidos como os responsáveis pela junção simbiótica.

Este fenômeno ocorreu quando grupos que apresentavam comportamentos e funções diferenciadas se coligaram em uma independência, criando um todo com individualidade própria.

Como exemplo, podemos citar alguns animais marinhos como água-viva e a medusa. Neles, encontramos três animais distintos, em simbiose, um servindo para percepção, outro para locomoção e outro para digestão, formando um todo que caracteriza outro animal (globalidade).

De acordo com o exposto, se observarmos a natureza, poderemos deparar com espécies que sofreram diferentes graus de evolução, demonstrando o poder de adequação de suas estruturas, inclusive nós, seres humanos.

Entendemos, então, que este comportamento gregário, grupal e simbiótico não pode ser visto nem analisado como partes individuais, mas sim como funções independentes que expressam, em sua globalidade de seres, uma função maior própria, com objetivos existenciais definidos.

Nos seres humanos, a unificação de um indivíduo tem origem na função de dois organismos diferenciados (óvulo/espermatozóide), trazendo, cada um, uma ogiva genética de onde eclodem as polaridades que farão a síntese biológica de um novo ser. Esta síntese se desenvolve a partir do surgimento dos três folhetos embrionários: o ectoderma, o endoderma e o mesoderma.

Nesta seqüência curiosa e significativa, a compreensão dos projetos deste ser está contida no desenvolvimento embrionário onde continuará por toda a sua existência, demonstrando a repetição da filogênese pela ontogênese.

Uma das características das leis universais é a capacidade da existência em elaborar formas através de elementos mais simples criando sistemas mais complexos. O homem como produto histórico da configuração do Universo não foge à regra para construir sua própria forma, e também expressá-la em suas dimensões: biológica, psíquica e espiritual. Esta tríade guarda uma relação direta com o seu constructo biológico primário, que trás em si a idéia, a forma e a ação do estabelecimento humano.





Construção da forma





No período evolutivo dos seres vivos o DNA tornou possível o estabelecimento de formas adaptativas à dinâmica existencial, sem o qual, hoje, não seria possível a transmissão dos caracteres apreendidos.

Sob a forma de marcadores genéticos estruturais o DNA viabiliza o melhor desempenho (pregnância) no continuum evolutivo da forma humana.

Reconhecemos esses aspectos no homem quando na fusão espermatozóide/óvulo e no desenvolvimento das três camadas germinativas embrionárias, (ectoderma, endoderma e mesoderma).

Movidas geneticamente, através dos milhões de anos em evolução, estas camadas conduz ao surgimento de estruturas biológicas diferenciadas, mas, objetivadas para o sentido maior da unidade humana a construção do indivíduo como um todo. Sob esta síntese desenvolvemos uma forma de trabalho psicoterápico, que chamamos de Biossíntese Morfoanalítica: Gestalten Biológicas Existenciais.

Esta composição teórica objetiva uma prática que não se baseia unicamente nas tendências inscritas no organismo (os fatores genéticos), mas também, na intermediação dos fatores ambientais (os fatores epigenéticos), os quais são moldados pelas sensações e sentimentos que garantem o modo expressivo do Ser no mundo.

Esta inter-relação organismo-meio deve-se à capacidade perceptual oriunda da primeira camada embrionária, o Ectoderma, que é responsável pela construção dos órgãos dos sentidos, pele, cérebro, sistema nervoso e órgãos sexuais. Curiosamente, o fato de esta camada ser a primeira a ser formada, nos leva a entender que a instância primordial do organismo é perceber, sentir e transmitir as informações às outras estruturas a serem formadas. Isto dá a dimensão de proximidade e afastamento, através de processos sensoriais específicos a essa estrutura que, como função, leva à apreensão de uma realidade existencial expansora ou repressora das necessidades organísmicas.

As apreensões do mundo exterior sedimentam-se na camada mais profunda, o Endoderma, que digere e excreta as substâncias do mundo exterior, através dos órgãos viscerais do sistema digestório biologicamente configurado a partir dessa camada. Sua função não é só digerir o alimento bioquímico, mas também todos os processos emocionais que interferem na porção autonômica do sistema nervoso e digerir ou não as apreensões existenciais. A resultante desses procedimentos metabólicos é o impulsionamento da energia (bioquímica, psíquica e espiritual) que alimenta o dinamismo da camada intermediária às outras citadas, o Mesoderma. Esta camada, evidência a formação dos ossos, músculos, tendões, coração e circulação dos líquidos polarizados (sangue, linfa, hormônios, água e sais minerais) do organismo que são responsáveis pela afirmação e plasticidade expressiva do indivíduo para o mundo.

O encarar (facing, segundo Boadella, 1992) o meio e confrontar-se com este é, talvez, o maior ato de evolução da humanidade como espécie. Este ato por si só, demonstra como utilizamos nossos grandes ciclos biológicos (gestalten) em suas funções na manutenção de nossa existência: o ato de respirar (inspiração e expiração) e o ato de comer e excretar. Partindo-se da posição ereta, essas funções ditam o modo como operacionalizamos nossa existência. É importante salientar que estas três camadas trabalham de uma forma simbiótica na manutenção do equilíbrio homeostásico.

O ritmo acelerado da existência, o aumento da competitividade, a necessidade de níveis de aquisição e a dificuldade de alcançá-los põem o indivíduo em um estado permanente de excitação nervosa (stress) que, quando cronificado, conduz ao distress (o estabelecimento de atitudes e funções orgânicas compensatórias aos estímulos nocivos recebidos). Estas compensações interferem no ciclo de regulação do organismo (Kurt Goldstein, 1961) que oscila, constantemente, entre os estados de atividade e repouso, buscando a melhor forma.

A busca pelo entendimento de atitudes quer sejam, de aparência orgânica ou psico-comportamental, faz com que o conhecimento humano evolua sob as bases de postulados filosóficos, dos quais se originam ideologias e correntes abstraídas de uma realidade sempre circunstanciada pelo individual.

Compreendemos que ciência é conhecimento que, quando firmado e aceito, cria um paradigma que se adéqua às vertentes do pensamento em um meio sócio-cultural. Assim, a ciência evoluiu sedimentada na fragmentação da realidade em verdades distintas, tendo como base o Cientificismo Positivista Cartesiano, que deu origem ao conhecimento objetivo e exato e o Cientificismo Subjetivo Humanístico, que retrata as atitudes humanas através dos sentimentos e idéias caracterizadas por tradições culturais.

O êxito do positivismo na Europa contribuiu para o descaso do pensamento metafísico, divergindo dos princípios preconizados por Lamark, Darwin e Kant a respeito da natureza. Neste período se reivindicou a Psicologia, direitos de pertencer aos postulados científicos como os da Física, Química, Biologia, e Ciências experimentais. Os trabalhos de Stuart Mill reivindicam a Psicologia como ciência independente, em que a observação teria como objetivo descobrir leis em que os fenômenos da alma (espírito) geram uns aos outros, sem exclusão da dependência organísmica (matéria – corpo físico).

Procurando corresponder às expectativas da Psicologia como ciência em seu caráter vigente, surgiu a Gestalt Teoria que, ao mesmo tempo se contrapondo aos procedimentos positivistas e associacionistas, tenta aprofundar o psiquismo humano de uma forma original e simples. E isto foi possível através do estudo das sensações e imagens que constituem a espinha dorsal de seus procedimentos teóricos.

A Psicologia da Gestalt ou ainda a Psicologia da Forma deve o seu desenvolvimento aos alemães Ernest Mach, físico, e a C. Von Ehrenfels, filósofo e psicólogo, que através de seus escritos sobre as qualidades da forma, os quais continham observações a respeito de linhas melódicas, onde a forma particular de uma partitura é a qualidade irredutível à enumeração das partes que compõem a melodia. Nasceu então o que entendemos como globalização da forma - o todo é maior que a soma das partes.

A Gestalt Teoria tem ainda uma influência da fenomenologia, através de Franz Bretano, tido como o iniciador dos movimentos fenomenológicos, Husserl e Koffka. Estes movimentos influenciaram a filosofia existencial de Karl Jaspers e Martin Heidegger, repercutindo sobre as ciências psicológicas, modificando a relação terapeuta/paciente, por ter levado em conta as qualidades de contato entre ambos, estabelecendo uma nova abordagem terapêutica.

A Gestalt Teoria se impõe no domínio médico-patológico influenciando a chamada Medicina Psicossomática, de origem Européia, com Grodeck, e a Americana com Franz Alexander. Por seu caráter científico se orienta para a consideração dos equilíbrios e dos desequilíbrios globais do indivíduo (ciclo de regulação organísmica em sua totalidade psico-orgânica).

Sob esse prisma, é inconseqüente negar a globalização da ação organísmica no confronto com o meio – campo total – (interno e externo), considerando ainda de extrema importância o reconhecimento das sensações no campo existencial que determinam a melhor forma de ação do indivíduo. É de vital importância para os novos caminhos da Gestalt terapia e a psicologia contemporânea, um entendimento da melodia tocada por cada ser humano, sendo cada aspecto desta, simplesmente, uma nota em sua harmonia com a existência.

Dentro do processo existencial, não há estruturação corporal sem uma experiência direta, portanto, a noção de existência só acontece a partir da tomada de consciência corporificada dentro da experiência direta (Awereness).

A expressão da estrutura humana tem um sentido de organização, e este sentido evidencia-se a partir da noção implícita do caos, o que leva à necessidade de uma ordenação dos estímulos que chegam ao organismo, e que serão metabolizados para uma ordem expressiva.

Em Biossíntese Morfoanalítica: Gestalten biológicas existenciais, este fenômeno de ordenação, que entendemos como princípio de pregnância ou estruturação da forma ideal, pode ser observado desde o desenvolvimento embriológico, nos movimentos interativos das camadas embrionárias já citadas.

Todos os influxos do organismo materno interagem bioquimicamente nas necessidades embrionárias desenvolvidas em cada ciclo das aberturas das chaves genéticas do organismo em formação. Esta capacidade de se organizar é um processo intrínseco às leis universais, quando observamos a natureza do átomo que busca manter-se estável dentro de sua instabilidade estrutural na formação molecular.

Portanto esta propriedade é inerente e básica como núcleo organizador. Todo organismo vivente procura, através do estabelecimento de ordenação, a resposta que acomode o melhor desempenho funcional. Desta forma, nossos órgãos e suas funções desenvolvem um organograma seqüencial a partir dos valores das forças que são absorvidas pelo organismo. Estas forças nos impulsionam para padrões que podem ficar estratificados em camadas cristalizadas, impedindo outras possibilidades funcionais.

Este continuum de organização conduz ao surgimento de formas ideais entre protoplasma e matéria, e no plasma humano caminha para a “formatividade” pregnante à ação.

Após o nascimento, o ser humano continua a repetir o processo de seu desenvolvimento, tendo sempre como base os ciclos de regulação organísmica que impulsionam a existência em uma espiróide entre vida, existência e morte.

Todos os organismos viventes têm uma forma única no modo de se organizar, e nos seres humanos esta organização se faz através de um diálogo contínuo entre as necessidades naturais e os paradigmas da sociedade circundante, o que nada mais é do que a busca da individuação. Nesta busca, os indivíduos se amoldam em processos injuncionais que poderão impulsionar ou estagnar a criatividade – criar atividade – e a criação – criar ação – pelo fixar de ideais psicológicos.

O que é mais presente durante toda jornada informativa é a capacidade contínua de estruturar nossa forma durante a existência.

Nossa idéia de Self vai estar sempre de acordo com a nossa percepção do como agimos, mas não percebemos a atividade músculo-esquelético para fazê-la, ou seja, tornamo-nos autômatos dos nossos padrões de sentimentos e pensamentos.

Quando nossas percepções ditam que estamos defasados em nossos objetivos, mais uma vez é acionado o centro organizador, o qual sob esta tomada de consciência age como um desorganizador do pré-existente, para reorganizar novos conceitos de existência, repetindo-se assim as ações micromoleculares para o macrocosmo social. Esta percepção nos dá a condição de escolha, ao invés de sermos escolhidos. E a partir do reconhecimento das forças limitadoras e da facilitação de experimentos que possibilitem o aumento da flexibilidade criativa, se constrói a chave do processo terapêutico para reinstituir o fluxo da energia formativa. O ponto central é a experienciação, pela qual nos estruturamos e projetamos esta corporificação em nossa vida pessoal.

O ato terapêutico, com uma observação adequada, nas expressões do cliente como um todo associados ao discurso verbal contextualizado ou não, podem conduzir ao desvelamento das “chaves” biológicas que são cruciais para a detecção das interferências dissonantes ou resistências que interferem no ciclo de regulação organísmica.

O passo inicial para as pessoas começarem a se dar conta dos padrões dissonantes, que são elas mesmas em várias situações, conscientes ou inconscientes, é o facilitar a confabulação de experiências significativas dentro de suas existências. Isto se torna possível, tanto ao nível individual, como nos grupos terapêuticos, com o estabelecimento de vínculos de confiança na escuta e na fala.

A partir deste passo, começamos a elaborar os procedimentos somáticos de como configurarmos nossa atitude para expressarmos ao meio.

O psicoterapeuta conhecendo os vários estágios formativos deste universo que se encontra à sua frente (o cliente) estabelece uma relação de contato que desenvolve uma coerência capaz de viabilizar a ressonância e a consciência “awareness” por parte do cliente em reconhecer (conhecer novamente) os entraves entre pensamento e ação. Estes conflitos contribuíram para expressar comportamentos inadequados por parte do cliente em seus relacionamentos pessoais e em sua própria existência.

O ato conduz a uma desarrumação da forma presentificada, abrindo um maior espaço em um novo sentido para o surgimento de uma nova concepção da forma, uma nova ação (inovação) e um novo comportamento.

Alguns puristas em terapias com base gestáltica exageram “o como”, e evitam os porquês, entendendo que estes tenham conceituação analítica e fragmentadora da totalidade, dando caráter mais explicativo do que integrativo, mas, no entanto, utilizamos aqui uma máxima popular que diz: “todo o quê tem seu por que”. Daí a importância de se conscientizar, primeiro, “do quê” e o entendimento “do como” para executar a ação.

De uma maneira mais prática, podemos perguntar: “O que faço?” Para em seguida questionar: “Como faço?” E em uma terceira etapa se dar conta de como parar de fazer (retirada). Na quarta etapa: “O que acontece quando deixo de fazer?” (evitação). E como quinto elemento: fazer uma síntese das etapas anteriores, procurando estar na “awareness” da importância dessa experiência na minha vida como um todo, de que forma a utilizo, quais os ganhos e perdas neste tipo de ação. Segundo Naranjo:



La terapia gestáltica considera como fóbica gran parte de la conducta actual: organizada de tal forma que toda ella pueda parecer fluida, y sin embargo, se evita el verdadero contacto, se suprime la verdadera expressión. Más allá de las casi universales evitaciones del dolor, de la profundidad en el contacto y de la expresión, algunas de nuestras fobias son individuales y se relacionan con el desheredar ciertas funciones específicas que son parte de nuestro potencial.

La idea de iniciar la acción o la expresión tiene, por consiguinte, dos formas de aplicación técnica en la terapia gestáltica: uma universal y otra individual. Uma técnica universal es maximizar la iniciativa, correr riesgos y manifestar la expressión en palabras ou acciones. Una de aplicação individual es una “prescripcion” basada en un diagnóstico individual de algo en cuyo hacer la persona se verá forçada a superar su evitación.



Em Biossíntese Morfoanalítica: Gestalten Biológicas Existenciais, ao executar uma ação qualquer é necessário ter Vontade, mas por outro lado, a vontade não nasce do nada e sim de uma energia sutil conhecida por Pensamento.

O pensamento ou forma de pensamento precede a nossa existência, e só através deste, a consciência humana se configura. Portanto, os pensamentos que passam para nós não são nossos, mas sim de uma consciência coletiva universal.

A consciência seria nada mais do que a síntese das formas de pensamento que habitam (fixação de idéias) e atravessam nossas mentes dentro de uma determinada cultura.

A depender de como sentimos e elaboramos os pensamentos como nossos, passaremos a desenvolver tensões, vibrações eletromoleculares de nossa estrutura orgânica, nos dando um sentido de auto-identidade, específica a uma ação. Nasce a partir daí o que podemos entender como Desejo. Queremos, então, fazer “algo”, não importa o que seja, e a partir do nível elaborativo das “formas pensamento” que configuram o desejo, passamos a uma necessidade orgânica de “fechar”, concluir o desejo. (Ciclos de regulação Organismica)

Sob a ação do desejo que por sua vez configura-se em função da intensidade das ondas de pensamento, nosso organismo eleva o grau de excitação nos complexos densos e fluídos de nosso corpo (hormônios, líquidos, descargas elétricas, motilidade celular dos tecidos e acomodações ósseas). Neste estágio, nos resta duas opções, permanecer e não ir adiante, ou partir para a ação, e para isto é necessário que atue a Vontade.

Para movermos no mundo é necessário ter vontade, desde o movimento de um simples dedo, a tomar decisões mais complexas e objetivas, dentro de um contexto existencial, o empenho da vontade (Ação) pode mudar, muitas vezes, toda uma dinâmica de vida.

A vontade pode ser entendida como “algo” distinto, mas não afastado do corpo, pois as atividades deste dependem da predominância energética da vontade. Em essência, seguimos a energia incessante da fonte que jorra de nosso interior (Id grodeckiano, Eu centro, Self, Core), que nos direciona no mais puro sentido da natureza humana; só que entre o impulso de saída do nosso Eu centro, e a manifestação expressiva de nós (eu social) muitas interferências ocorrem, o que sob muitos aspectos psicológicos e específicos, nos distanciam das expressões e configurações mais originais do espírito, do corpo e do psiquismo.

Em cima destes pressupostos, podemos entender que todo o crescimento humano sempre foi e será permeado pela vontade, mas, no entanto, esta vontade, muitas vezes fica encoberta pelo ambiente sócio-cultural.

As ações reais ou realizações, nada mais são do que a materialização da energia da vontade, pois só podemos percebê-la através da consecução das ações.

Essa operacionalização depende de uma forma específica de ação a que chamamos vontade hábil.

Toda ação para ser concretizada decorre de um processo, o qual está permeado de dificuldades exteriores que podem ser entendidas como entidades vivas (Sub Personalidades ou Sub Eus) que tentam, dentro de suas possibilidades, intervir e bloquear a consecução dos objetivos propostos. Quando desenvolvemos através de treinamentos específicos o surgimento da vontade hábil, conseguimos vencer, habilmente, todas as interferências que ameaçam a consecução dos objetivos firmados. Nós temos a capacidade de escolher, livremente, nossas ações, mantendo toda responsabilidade desta escolha.

Este poder de decisão que evolui e se desenvolve com a espécie humana, é o que é chamado de centro da vontade.

Em alguns momentos de nossa vida, nos sentimos como um barco à deriva. Não se vê a margem, isto é, não se reconhecem às metas e, estas quando são conhecidas não se sabe como alcançá-las.

No campo psicológico, isto significa a necessidade de se ter consciência das interferências produzidas por hábitos estereotipados, suas funções e inter-relações, de modo que possamos traçar as ações mais concretas para a execução das nossas metas.

Em algumas situações, a vontade (necessidade) surge com força e habilidade, muitas vezes ela não é satisfatória, e a sua direção não objetiva metas que visem ao crescimento individual ou o bem comum, pois esta pode estar dirigida para a maldade e tornar-se um grande risco para a comunidade, sociedade e humanidade. Podendo ser também utilizada para promover a “peste emocional”, corrompendo a vontade de outras pessoas e desconsiderando princípios éticos, distorcendo verdades em função de objetivos psicopatológicos.

Quando a vontade como necessidade entra em ação, ela deve ser forte, hábil e acima de tudo boa. Estes aspectos devem ser a meta de qualquer empresa, instituição ou pessoa humana que ocupam um lugar na sociedade.

Existe ainda outro aspecto de que muitas vezes nossa individualidade não se dá conta, mas que, de maneira consciente ou inconsciente, permeia os outros três: é à vontade transpessoal. Este é o quarto fator dimensional da existência humana, e que muitas vezes foi olhado com resistência pelos meios científicos, e que era domínio do campo religioso e da espiritualidade. Esta dimensão funciona no sentido ascendente, na busca da compreensão divina, que é inerente ao homem conhecida como transcendência, que visa à busca de valores supremos, experiências culminantes, transes e sensações místicas, bem-aventurança, auto-realização interior e a expansão do EU pessoal na busca do sagrado durante o cotidiano. Busca ainda um maior relacionamento entre a fusão do Eu pessoal com o sentido divino através da expansão deste Eu fundindo-se com o Eu cósmico que é a vontade transcendental.

O trabalho em Biossíntese Morfoanalítica aguça a nossa sensibilidade fazendo com que tomemos consciência da parte mais elemental e característica do nosso ser, a consciência do nosso Eu, o núcleo da nossa existência que tem uma natureza completamente diferente de todos os elementos (sensações físicas, sentimentos, pensamentos, processos emocionais...) que formam a nossa personalidade, agindo como centro unificador regendo estes elementos e guiando-os para a unidade de uma totalidade orgânica.



O organismo humano (corpo)





Uma Gestalt Biológica tem por base a estruturação de movimentos e posturas, os quais provocam o despertar de uma nova consciência (Awareness) em que o individuo dar-se conta de novas possibilidades e atitudes que proporcionaram escolhas mais eficazes dentro de seus processos existenciais.

Esta base foi ampliada levando-se em conta o principio elementar da contratibilidade biológica em resposta aos vários níveis de percepção. Entendemos que a principal via expressiva do ser humano são as respostas neuromusculares e viscerais alimentadas por conceitos individuais, que a depender do tipo de resposta expressiva, seu tempo e intermitência, poderá ser criado uma deformação postural e comportamental. Isto se dá por encurtamento (contração crônica), ou flacidez (perder tonicidade), da musculatura em geral. Deve-se levar em conta que a priori a musculatura esquelética posterior é principalmente atingida, e por conseqüência interfere em nossa forma estrutural que está diretamente ligada ao como fazemos e interagimos, diante do mundo que nos cerca, assim a nossa forma se expressa no nosso comportamento e vice-versa.

Outro princípio inerente às formas vivas é a tendência atualizante na busca da melhor forma e melhor adaptação às diversas situações fenomenológicas existenciais. Enquanto seres humanos este princípio de pregnância estará presente em nós tanto em latência como em potência no buscar de uma configuração simétrica equalizadora dos opostos.

Os opostos, vida e morte fazem parte de um processo global e específico. Global por fazer parte da existência como um todo e específico quando enfoca momentos existenciais.

Portanto devemos tomar consciência que viver é um processo de caminharmos para a morte e, durante esta jornada, nos deparamos várias vezes com a possibilidade da finitude. Quando adoecemos tomamos atitudes de risco em nossos ritos de passagem e nas “mortes vivas”, o nosso modo de interagir nestes momentos de crise é evidenciado pelas “marcas” expostas em nossas atitudes.

O nosso corpo é parte de um sistema integrativo onde todos os fluxos e influxos se interpõem e interdependem mutuamente (simbiose) todo tempo. Desta forma a terapia morfoanalítica não é um método de alívio, mas uma transformação concomitante da estrutura interna e externa facilitada por uma atitude não-diretiva por parte do profissional. Isto não quer dizer uma isenção, pois todo o processo é um acordo dentro dos limites de contato determinado pelo paciente, que tem liberdade de recuar ou avançar.

A tomada de consciência por parte do cliente o conduz a enfrentar seu próprio sentimento e o profissional ter ouvidos para captar os subentendidos, estando consciente que não se modifica impunemente uma estrutura corporal. Para tanto é necessário um bom contato com suas próprias emoções para não bloquear as dos outros.

Esta percepção por parte do psicoterapeuta quer seja um processo de grupo ou individual, não o faz um simples observador, mas antes de tudo um experenciador congruente consigo mesmo e com o outro, em uma globalidade no dar-se conta de como podemos mudar a nós mesmos.





Referencial Bibliográfico





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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CONVIVENDO COM O MORRER - GESTALTEN BIOLÓGICAS EXISTENCIAIS

ABSTRACT

CONVIVENDO COM O MORRER

Ciclo do renascimento - Leunam Max
GESTALTEN BIOLÓGICAS EXISTENCIAIS


No mundo material e objetivo em que vivemos, está presente a maior angústia existencial, a terminalidade, a morte. Uma característica básica do homem é o pensar e o modo de como o faz, explicando de como o pensar nos define como existência, moldando por um tempo indefinido a tentativa de perpetuar sensações em detrimento a “ganhos” no modo relacional. O convívio com a angústia de morrer leva a um paradoxo entre a realidade de estarmos morrendo em nosso processo existencial e a terminalidade biológica. Outro fato que nos confronta com o morrer é a sexualidade em seus dois aspectos: o procriar e o prazer. Segundo alguns autores, nossas vida se estabelece de acordo com o nosso nível de awareness do Eu e não de “eu”. O conhecimento destes elementos confronta-nos de forma preparatória com o mito interior, o grande morrer. Desta forma compreende-se que nosso contínuo existencial está ligado ao modo como com as nossas pequenas mortes (gestalten existenciais) que irão formar o todo da morte final (fechamento da gestalt biológica), assim renascendo a cada instante favorecendo um morrer saudável que não precisa ser doloroso ou negado, mas simplesmente natural.

"Visto que a matéria e a substancia das coisas são indestrutíveis, todas as partes que a compõem estão sujeitas a todas as formas, pelo que o uno e o múltiplo se transformam no múltiplo e no uno, se não num mesmo tempo e num único momento, em vários tempos e momentos, em sequência e em alternância."
(O retorno de Giordano Bruno)


CONVIVENDO COM O MORRER
GESTALTEN BIOLÓGICAS EXISTENCIAIS

Dr. Evilázio Lima
Psicólogo e Acupunturista

No mundo material e objetivo em que vivemos, apesar de todo avanço científico - tecnológico a maior angústia existencial ainda é o lidar com a terminalidade, o que nos faz permanecer mantendo contato com tudo que acreditamos como único; e evidentemente nos parece ser o sentido de nossa existência. Isso se transforma em um dado real que dificulta e às vezes torna quase impossível uma retirada que nos possibilite o novo. Dentre as várias opções criadas por nossa existência é o aparato religioso que nos traz um aparente conforto de continuidade, independente de como isso se proceda, que continuaremos a existir. As promessas religiosas e espirituais mais comuns são da eternidade da alma, do renascer em um paraíso ou inferno como gratificação ou castigo ou ainda renascer em nosso mundo físico com uma proposta de evoluir com uma essência espiritual através de processos kármicos. Quando em nossas relações com os fenômenos mundanos algo não sai dentro de nossas expectativas, podemos atribuir à forças exteriores, divindades ou simplesmente... “Deus quis ou Deus não quis” e assim nos distanciamos da possibilidade de mudar a realidade, permitindo a “morte” do que já não é mais possa favorecer um novo ressurgir. No entanto ao que nos parece, todas essas promessas vinculadas aos diversos credos não nos privam de uma maneira geral de vivenciar em um nível psicológico bem concreto o conviver com “as perdas existenciais e biológicas”, o que nos torna os argonautas da morte.

É possível que a maioria das pessoas não se dê conta de que quando nasceram ou foram concebidas começaram a morrer, e de uma maneira muito sábia a natureza nos põe à prova do nosso convívio com a finitude das coisas. Ao nascer somos formados por uma trindade de funções que são estabelecidas por razões evolutivas, pois enquanto embriões nossa forma final (gestalt biológica), deriva-se da tríade que alicerça a nossa configuração organísmica: o ectoderma - estrutura que surge em um primeiro plano e vai definir o modo de como percebemos e sentimos o nosso mundo exterior e interior; o endoderma que de uma forma geral é responsável pelo nosso “digerir” bioquímico e psicológico e o mesoderma que vai facilitar o nosso processo de como sentimos , absorvemos, expressamos nossas gestalten (abertas ou fechadas) no nosso estar no mundo. Esta tríade biológica estabelece os nossos limites de contato e como estes, corroboram de uma forma constritiva ou expansiva a nossa compreensão de mundo.

Outra característica básica do ser humano, que nos diferencia de outras espécies é o pensar e o modo como o faz. Desta forma a máxima cartesiana de: “Penso logo Existo” explica de como o pensar nos define como existência, ou seja: se eu escolho em guardar uma raiva, uma dor, uma tristeza, ou qualquer sentimento afetivo estando este consciente ou inconsciente, molda por um tempo indefinido a tentativa de perpetuar essas sensações em detrimento de possíveis “ganhos” no modo relacional. Assim nos parece mais fácil entender que a eternização de nossos caracteres como seres únicos dependem do como pensamos e nos sentimos diante dos eventos e circunstâncias que fenomenalizam o nosso existir, e assim criamos mitos. Dentre estes podemos considerar como maior, o mito da morte.

Keleman (1980, p.71) coloca que “A experiência está ligada ao mito. Estar mergulhado na própria experiência é viver seu próprio mito, sua própria história de vida. Toda vez que refletimos sobre aquilo que experimentamos, estamos criando uma estória para explicar aquela experiência, ou estamos aceitando a explicação de outrem sobre ela: nossos pais, nossos professores, o chefe, nosso cônjuge, a cultura”.

O convívio com a angústia de morrer estabelece um paradoxo entre a realidade de estarmos morrendo em nosso processo existencial e a terminalidade biológica. Sob circunstâncias como doenças, acidentes e desafetos profundos criamos o mito de que estamos sob a eminência da morte. O que não nos damos conta é que nosso morrer existencial deriva-se do fato de termos nascido e ao que tudo indica, nascemos para morrer. É muito importante entendermos que o morrer não significa a morte, mas sim o modo de como transpomos os fatos mais marcantes em nossa vida biológica, psicológica e espiritual. Por exemplo: nossas gestalten biológicas do desenvolvimento (criança, adolescente, adulto e o velho). O surgimento e o desaparecimento de emoções intensas e alterações de credo em função de nossos níveis de awarenes nos liga com algo indefinido e divino que tenta explicar nossas ações temporais na vida biológica e após esta. Então o nascer e o morrer guardam uma relação direta de como interagimos com nossos valores e expectativas psico sócio culturais.

Autores como A. Maslow, R. Assagioli, Jung, P. Weil, Groff e outros começaram a preocupar-se com os limites do conhecimento cartesiano que não podiam explicar determinados acontecimentos que envolviam estados alterados de consciência e era mais fácil lidar com estes através de um rótulo do que explorar de uma maneira criativa estes estados e promover uma reintegração psico-biodinâmica. Através de sistemáticos estudos dos autores acima citados entre outros, desenvolveu-se um campo da psicologia que hoje é conhecido como Transpessoal, que busca explicar os fenômenos além da pessoa, o que foi um grande marco para o estabelecimento de condutas que buscam minimizar entre outras aplicações, o sofrimento de indivíduos que estão eminentemente frente à morte biológica.

Entretanto para o nosso entendimento o ser humano não estabelece um crescimento ou compreensão transpessoal e sim uma expansão de seus próprios níveis de awareness não para além dos seus limites pessoais, mas ampliando estes para uma compreensão mais profunda de sua existência na unidade cósmica. Portanto, não é simplesmente se encontrar recursos para que se possa intervir unicamente nas pessoas que estejam sendo acometidas de doenças tidas como terminais, mas promover revisões quanto ao estabelecimento dos mitos que esta pessoa fixou durante sua interação sócio cultural, isto é, tornar consciente o que Keleman coloca sobre a existência do grande morrer e do pequeno morrer. Se entendermos morrer como a finitude de algo isto está sempre acontecendo em nossa vida, pois a cada instante em uma relação espaço-tempo muito subjetiva (contato-retirada) estamos sempre lidando com terminalidades, quando expiramos logo inspiramos, quando comemos ou bebemos logo excretamos, estabelecemos vínculos e os perdemos, nossas funções físico metabólicas estabelecem ritmos de plenitude e vazio, expansão e contração e assim nos aspectos biológicos, sociais e espirituais estamos sempre morrendo e renascendo em algo.

Outro fato que nos confronta com o morrer é a sexualidade, onde dois aspectos permeiam esta forma de relação: o procriar e o prazer. Quanto ao procriar, este parece ser o vínculo dentro do campo filogenético de nossa permanência como espécie, e o prazer sexual, uma forma de expressar as tensões estabelecidas pela carga de energia acumulada em nossas relações existenciais.

Independente pela busca do prazer ou procriar o ato sexual é culminado por um pico explosivo (descarga orgástica ou um fechamento de uma gestalt), que parece muito se assemelhar ao processo de morte, pois em situações de orgasmo muitos indivíduos experimentam uma fragmentação do ego, uma perda de identidade sexual (Grodeck) e uma sensação de estar morrendo ou morrer. Outra questão ligada à morte ou ao morrer é a identificação com o ideal do corpo, que de acordo com as questões interativas, toma formas que contam uma história vivenciada pelo indivíduo.

Ao observar estas transformações, geralmente o que se pensa é que elas são algo que vem de fora para dentro e que não se pode intervir em cima da vontade do corpo. Assim sendo, idéias como: “Eu estou velho para isto!”, ou... “Eu só posso fazer isto!” ou... “Se eu não posso mais, estou velho para!”... “Então, só me resta esperar a morte!”.

Se olharmos bem para estas questões o que pode de imediato nos chamar a atenção é o fato de que para nos definirmos como atitude, como limitação ou forma expressiva; utilizamos sempre o pronome do caso reto “eu” e esta primeira pessoa é sempre identificada com padrões e papéis sociais que circunscrevem a existência individual. Portanto quando se diz “Eu estou morrendo...” este tipo de pensar nos confronta quase sempre com a possível morte imediata, o que pode ou não ocorrer, o que queremos dizer é que necessariamente o Eu não precisa estar sempre identificado com qualquer processo existencial, pois a excessiva fixação em um deles pode nos levar a uma configuração que impossibilita outras expressões desse Eu centro.

Segundo Assagioli e Pierrakos toda nossa vida se estabelece de acordo com o nosso nível de consciência do Eu e não de “eu”, pois no Eu centro reside o núcleo (core) de nossa responsabilidade e a consciência mais profunda da nossa vontade de existir em nosso processo de morrer.

Podemos expandir o Eu das estruturas mais básica da vida como comer, reproduzir e preservar-se (Eu básico), para uma consciência do desempenho dos papéis de ordem social e cultural (Eu pessoal) e esta consciência ampliar-se em uma compreensão global do sentido da existência em uma subjetivação da ordem cósmica a cerca da DIVINDADE existencial (Eu expandido, Eu cósmico ou Eu transpessoal).

O conhecimento destes elementos e o se dar conta da finitude deles e o surgimento de outros, confronta-nos de uma forma preparatória com o mito interior, o grande morrer. Então para podermos morrer é necessário nascer e para nascer é preciso morrer. Desta forma é possível a compreensão de que nosso contínuo existencial está ligado ao modo como lidamos com as nossas pequenas mortes (gestalten existenciais) que irão formar o todo da morte final (fechamento da gestalt biológica) de como em vida morremos e renascemos a cada instante favorecendo um percurso de morrer saudável que não precisa ser doloroso ou negado, mas simplesmente natural.



REFERENCIAL TEÓRICO

AQUINO, Regina de. Objetivo da Terapia Transpessoal Tanatológica. Curso de Psicologia Transpessoal, 1994.
ASSAGIOLI, Roberto. O ato da vontade. 9° edição, São Paulo: Cultrix, 1993.
BOADELLA, David. Correntes da vida. Uma introdução à Biossíntese. São Paulo: Summus, 1992.
CAMPBEL, Joseph. A imagem mítica. Campinas, SP: Papirus, 1994.
CAPRA, Fritjof. Sabedoria incomum. 10° edição, São Paulo: Cultrix, 1995.
KELEMAN, Stanley. Living your Dying. 5° edição, New York: A Random House Book works Book, 1980.
TULKU, Tarthang. Gestos de equilíbrio. 14° edição, São Paulo: Pensamento, 1997.
WEIL, Pierre ET al. Pequeno tratado da psicologia transpessoal, Vol I. Petrópolis: Vozes, 1978.


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Aspectos Psicossomáticos da Dor

Aspectos Psicossomáticos da Dor



Um dos aspectos inerentes a todo ser humano é a capacidade de perceber, sentir e elaborar sentimentos. Tais sentimentos se expressam dentro de um padrão específico em um meio sócio-cultural. Também não se podem eliminar os potenciais genéticos que produzem padrões flexíveis sob influência de fatores externos.

A depender de como o indivíduo e seus potenciais interagem com o meio ambiente, dentro de uma área afetiva, cria-se uma simbologia própria de cada ser humano, em um comportamento idealizado para a coexistência.

A forma mais importante de contato que estabelecemos com nossos processos subjetivos é a emoção. Percebemos que, a partir de todo estímulo, externo ou interno, dependendo de sua intensidade imediata e afetos individuais, poderá se desencadear uma situação conflitante e surgir uma sensação dolorosa que presentifica a ação do estresse.

As sensações dolorosas vivenciadas pela maioria das pessoas podem resultar de uma ação mecânica externa, provocadora de lesões, ou de origem interna, através de uma hiper ou hipo função de um determinado órgão ou sistema.

As dores, normalmente, se apresentam de duas formas: agudas, quando mais facilmente se determina sua causa, ou crônicas, de difícil determinação e que parecem fazer parte da vida do indivíduo. Essas duas formas se comprometem com os processos fisiológicos do organismo, mas, no entanto, uma terceira forma se configura e se entremeia às outras. É a dor psicológica, a dor da alma.

Desde os tempos mais remotos, a dor tem tido profundas raízes morais e religiosas, podendo representar a vontade divina, ou um “elixir” para limpar a alma (Karma).



E QUAL SERIA, ENTÃO, O SENTIDO DA DOR NA NOSSA EXISTÊNCIA?



O que nos parece mais óbvio, é que a dor equaliza os seres humanos independente de sua estratificação social, cultural, étnica e religiosa. Leva todas as pessoas a se centrar em suas angústias e necessidades nos momentos de crise. Portanto, a dor parece ter um papel predominante na resolução das crises, e crise é, em última instância, dor.

Em relação ao fator psicogênico, este se manifesta dentro das percepções afetivas que estimulam os movimentos emocionais, juntamente com os processos intelectuais – o mundo das idéias. Psiquismo é alma e alma é a essência que nos liga aos processos espirituais.

A nossa existência tem por base dois elementos: a energia que mobiliza os processos da vida e a consciência que nos permite conhecer e direcionar esta energia.

Para existir a dor, é necessário um substrato, e este é o nosso corpo que é dividido em três funções interligadas dentro das concepções da Biossíntese Morfoanalítica:

• Percepção – Ectoderma;

• Elaboração – Endoderma;

• Manifestação – Mesoderma.



A dor surge quando o indivíduo está impossibilitado de manifestar suas percepções, sobrecarregando o sistema orgânico de necessidades que não são satisfeitas (frustrações, angústias, repressões, medo, raiva...).

O nosso corpo é composto de um sistema articulado ósseo (esqueleto), envolvido por uma estrutura contrátil (músculos), e estes por uma última camada que é a nossa pele, onde encontramos a maioria dos receptores sensoriais distribuídos, em maior ou menor número, ao longo dos tecidos epiteliais.

Graças a estes receptores, temos as informações dos meios externo e interno que nos ditam, dependendo da sensação de prazer ou dor, o modo de agir.

A dor física, durante muitos séculos, foi tida como o terror da humanidade, e muito se fez para tentar minimizar este sofrimento. As tentativas iam, desde o campo místico, passando pela utilização de ervas, estudos alquímicos, os quais procuravam, através da relação entre os metais, sal, enxofre e o éter sulfúrico, encontrar a solução para o problema. Isto abriu espaço para um grande número de pesquisas nesse sentido e, nos dias de hoje, os processos dolorosos ao nível físico se encontram, praticamente, sob controle.

Apesar dos modernos medicamentos, muitas dores, não só as de base física, quanto às de base psicológica, não respondem aos tratamentos atuais.

Uma terapia milenar, que cada vez mais se faz presente na área de saúde, a acupuntura, vem trazendo uma solução alternativa aos tratamentos convencionais, pois os chineses há 6000 anos, já travavam guerra contra as dores através de acupuntura. Para eles, o equilíbrio da saúde dependia da energia que circulava no organismo por linhas na superfície do corpo. Tais linhas contêm pontos onde se pode inserir uma agulha, ou mais modernamente, a radiação laser, que é capaz de reorganizar o fluxo de energia para o equilíbrio da saúde e dos processos dolorosos.

Os textos antigos de acupuntura afirmam que se o psiquismo está em paz, equilibrado, o indivíduo estará menos exposto a enfermidades.

Hoje, já se comprovou que o psiquismo tem um importante papel na vulnerabilidade do organismo às doenças, pois a depender do tipo da dor ou da enfermidade, expressam de uma maneira simbólica, conteúdos inconscientes, latentes, que podem contribuir para a manutenção ou erradicação (quando entendidos – psicoterapias) dos processos dolorosos.


Dr. Evilázio Lima
Psicólogo Clínico e  Acupunturista



terça-feira, 10 de agosto de 2010

Medicina Tradicional Chinesa

Medicina Tradicional Chinesa

A prática da Acupuntura no Brasil






A Organização Mundial de Saúde publicou em 2001 um amplo levantamento sobre a situação das medicinas alternativas no mundo, e verificou que somente em dois países a acupuntura é restrita a médicos: Arábia Saudita e Áustria. Tal constatação se contrapõe frontalmente aos radicais que tentam creditar esta técnica milenar como um ato exclusivamente médico. Em mais de 50 países, porém, todo indivíduo com a devida formação em acupuntura pode praticá-la. Assim, não apenas os médicos, mas também, os enfermeiros, os psicólogos, os quiropráticos, os terapeutas e outros profissionais, aplicam esta técnica, além, evidentemente, dos Acupunturistas graduados em uma faculdade própria de acupuntura.

O mais importante não é afirmar quem pode ou não praticar, o fundamental é definir critérios claros sobre como se deve praticar à acupuntura pelos mais diversos profissionais. A OMS defende que a acupuntura seja multi-profissional e recomenda o estabelecimento de competências especificas para cada categoria. Neste sentido, foi apresentado no dia 27 de novembro de 2003 pelo deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), um Projeto de Lei que visa regulamentar o exercício profissional desta atividade, seguindo as orientações da OMS. Pelo projeto, todos poderão exercer esta prática dentro da sua respectiva área. Deste modo, o médico aplicará a acupuntura na sua especialidade (clínica médica, cardiologia, ginecologia, geriatria, etc); o fisioterapeuta aplicará na fisioterapia; o enfermeiro, na enfermagem; o psicólogo, na psicologia, afecções psicossomáticas e funcionais; o dentista, na odontologia, o veterinário, no trato de animais; e assim por diante.

Atualmente ainda na ausência de uma Legislação Federal especifica sobre a questão, qualquer um pode. Não é raro encontrarmos profissionais de acupuntura incapazes, sejam estes habilitados ou não. Por isso, é imprescindível a regulamentação desta atividade, principalmente pelos conselhos de classe, como já é o caso do de Psicologia, Ed. Física, Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia, Medicina. Entre outros segmentos profissionais.

Entretanto, o que se almeja é que apesar do forte lobby pelo monopólio da acupuntura, o direito ao livre exercício profissional continue garantido no país.

Acredito e defendo que a acupuntura possa ser praticada por todos, com critérios acadêmicos definidos. Portanto se uma pessoa quiser se submeter a um tratamento de acupuntura poderá escolher dentro de seus critérios de confiança o profissional de sua melhor escolha.

A Acupuntura busca dentro de seus princípios a promoção da saúde e bem-estar do paciente através da inserção de finíssimas agulhas especiais (de ouro, prata ou aço inoxidável) em determinadas regiões do corpo conhecidas como tsubos (Japão, pontos de acupuntura) em diferentes profundidades da pele. O procedimento da acupuntura é uma prática preventiva para inúmeras disfunções psico-orgânicas, sendo ao mesmo tempo um tratamento rápido e eficaz. Essa prática busca o equilíbrio físico, mental energético e espiritual do paciente.

Está provado cientificamente que a estimulação da pele (cutânea) pela Acupuntura causa umas respostas reflexas (“efeito bioelétrico”) no sistema nervoso, liberação de endorfinas, encefalinas, dinorfinas, aumento da concentração de serotonina no líquido cefaloraquidiano (LCR), etc.. Promovendo reequilíbrio orgânico e conseqüente prevenção, diminuição da dor, tratamento ou cura de inúmeras doenças (ex.: mentais, emocionais, orgânicas, comportamentais).

Hoje temos também estímulos não invasivos, sem agulhas, como por exemplo: uso de eletricidade, calor, pressão, massagem, ímã, semente, esparadrapo. Esses métodos estão ganhando gradualmente mais espaço nessa atividade terapêutica. Outros recursos são: eletroacupuntura, sangria, moxabustão, shiatsuterapia, ventosaterapia, fitoterapia, raio laser, eletromagnetoterapia, auriculoterapia, craniopuntura, quiropuntura, etc.

A pesquisa em Acupuntura dentro dos princípios éticos e científicos é de extrema importância dentro dos vários seguimentos dos profissionais da saúde, pois poderá contribuir com a aceitação e incorporação deste procedimento nos tratamentos naturais e científicos exercidos também na nossa cultura. A "Sociedade de Medicina Tradicional Chinesa" divulga mais de 360 doenças tratáveis pela Acupuntura. E em algumas situações nosológicas, apenas a Acupuntura é suficiente e efetiva, o que não quer dizer que em outras situações não exista a necessidade de associação complementar com outras formas terapêuticas. Nestas circunstâncias, o uso de medicamentos é diminuído, e seus efeitos colaterais também são diminuídos pela Acupuntura. Além disso, vários psicólogos aqui no Brasil e em outros países têm demonstrado, que o "casamento" da Psicoterapia com a Acupuntura produz nos pacientes uma melhora, mas rápida, efetiva e duradoura, sem a necessidade de remédios ou a supressão dos mesmos dentro dos princípios éticos.

Dr. Evilázio Lima















domingo, 8 de agosto de 2010

Laserterapia e Laseracupuntura

INTRODUÇÃO
 
Nos dias atuais, é praticamente impossível que, dentre os meios científicos, exista alguém que não tenha algum conhecimento do LASER e de algumas de suas aplicações. Tem-se observado que, com o avanço científico nas áreas da Física, Biologia, Psicofisiologia e disciplinas que têm como objetivo descortinar a dinâmica funcional dos seres vivos, hoje leva-se em conta a grande importância dos campos eletromagnéticos sobre as resoluções homeostásicas em organismos viventes. Já é sabido que, desde o antigo Egito, Grécia e China, a luz, cores e imãs eram utilizados para tratamento de doenças cujos métodos de cura ainda estavam dentro do pensamento mágico.
 
Em 1960, foi anunciado o primeiro gerador quântico de gama ótico criado por Theodoro Maimam nos EEUA e que foi identificado pelas iniciais que compõem a frase inglesa: “Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation” ou “Amplificação da Luz por Ação Estimulada de Radiação” o que conhecemos hoje como o aparelho de Laser. Esta descoberta trouxe uma grande revolução na Indústria, na Biologia e Ciências Médicas. Logicamente, a palavra Laser não desperta interesse em si, mas nos dispositivos que lhe conferem propriedades específicas que podem ser utilizadas por todos os especialistas da área de saúde.

EFEITOS BIOESTIMULATIVOS DO LASER
 
As principais investigações da bioestimulação Laser devem-se ao Dr. Mester, Diretor do Instituto Médico para pós-graduados em Cirurgia e do Grupo de Investigações Laser da Universidade de Budapest que estudou os efeitos de estimulações repetidas do Soft-Laser em feridas causadas por meios mecânicos e químicos em cobaias com resultados grandemente favoráveis.
 
A partir de 1971, começou a tratar seres humanos com lesões de difícil cicatrização, o que foi conseguido através do efeito Laser sobre o retículo endoplasmático com conseqüente aumento de DNA e da produção de colágeno. Seus estudos também foram corroborados pelos descobrimentos de Burns (1980) nos EEUA que confirmaram que a radiação a Laser acelerava a formação de ATP com a pontencialização e conseqüente aumento das divisões celulares. Roccia (1986) também se propôs conferir e pôs a explicar o mecanismo antinflamatório e antiálgico dos Lasers de baixa potência que, através da área irradiada, transmitem estímulos às fibras amielínicas do sistema nervoso autônomo para o hipotálamo onde, através da hipófise, se origina a formação de Beta-lipoproteina -ACTH-, Adrenalina e aumento do Cortisol, resultando em uma ação antinflamatória.
 
As razões do aumento da capacidade de mitose celular também foram comprovadas pelo Dr. Mester, através da utilização de exames histopatológicos e microscopia eletrônica, que comprovaram um aumento de captação de uridina, valina e timidina por parte da célula. Já o Prof. Pollack da Temple University da Filadélfia, e o Dr. Bianconi, da Universidade de Gênova, observaram que, ao se expor uma célula sob a bioestimulação Laser a nível mitocondrial, se produz a transformação de ADP em ATP.
 
Assim, podemos compreender que ao se tratar com Laser qualquer região alterada por um processo patológico ou mecânico, a radiação Laser será capaz de aumentar a velocidade do restabelecimento dos vários níveis do equilíbrio homeostásico perdido.
 
Em síntese, podemos dizer que os efeitos terapêuticos de maior importância produzidos pela Laserterapia são:
 
  • Aumento do fluxo hemático ou vaso dilatação arterial, com conseqüente ação antiflogística, antiedematosa, trófica e a estimulação do metabolismo celular.  
  • Alteração da pressão hidrostática intracapilar, com conseqüente melhora da absorção dos líquidos interticiais, com uma redução dos edemas e ativação da regeneração tissular. 
  • Aumento do umbral de percepção das terminações nervosas algotrópicas, com conseqüente ação analgésica. 
  • Estimulação da regeneração eletrolítica protoplasmática celular e o conseqüente aumento dos processos metabólicos. 
  • Estimulação dos sistemas imunológicos, com aumento paralelo da produção de anticorpos. 
  • Ação antibacteriana 
    De acordo com os efeitos estudados e já validados por um grande número de profissionais da área de saúde em todo mundo, podemos entender a amplitude de efeitos benéficos da radiação Laser em um espectro nosológico muito extenso, e, principalmente, nos processos que se requer uma ativação cicatricial, pois graças a esse efeito regenerativo, é aplicado com muito êxito, na cicatrização de feridas, queimaduras, enxertos cutâneos, úlceras tróficas e varicosas, para favorecer a recuperação de fibras nervosas lesadas e o aumento da velocidade da consolidação de fraturas ósseas.
     
    Segundo o Dr. Victor Inyushin, a terapia laser é um tratamento lumínico e eletromagnético, uma “injeção” de luz coerente, monocromática, capaz de fortalecer as necessidades primárias das células humanas. Fornece energia em forma de luz específica, capaz de acionar as forças do organismo para uma causa específica.
     
    A laseracupuntura utiliza a radiação laser como uma espécie de agulha, dentro das seis regras e limites próprios do método.
     
    No entanto, para a aplicação do laser em acupuntura deve-se levar em conta as seguintes condições: 
     
    • - Quando o corpo apresenta debilidade energética e não responde a tratamentos convencionais. 
    • - O paciente, sob o tratamento de laseracupuntura pode, em algumas situações, buscar uma terapia complementar como oligoterapia, homeopatia, fitoterapia, psicoterapia e florais. 
    • - Pacientes muito fortes (Yang), com muita retenção de energia (agressivos, nervosos, obesos) devem receber tratamentos freqüentes com menor tempo de irradiação. 
    • - Pacientes debilitados (Ynn) com pouca vitalidade (depressivos, portadores de doenças crônicas ou debilitantes) devem receber tratamentos menos freqüentes com estimulações mais prolongadas. 
    • - A laseracupuntura é mais confortável, principalmente, para as pessoas que têm medo agulha, além de ser um método totalmente asséptico, sem risco de contaminação. 
       
      Dr. José Evilázio Lima

       










 
  

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

PESTE EMOCIONAL

BIOSSÍNTESE MORFO-ANALÍTICA
Gestalten Biológica Existencial

PESTE EMOCIONAL
Evilázio Lima

“A peste emocional aglutina-se em círculos sociais, cuja influência se manifesta, sobretudo por uma opinião pública de intolerância em relação a tudo o que é amor natural. É conhecida e temida: sua punição golpeia toda manifestação amorosa sob falazes pretextos „culturais‟ ou „morais‟. Além disso, põe em funcionamento um sistema elaborado de difamação e delação”. (WILHELM REICH)

Durante milênios ninguém soube nada sobre este vírus que infesta às almas vivas. A peste emocional apresenta suas características próprias, que a tornam temível. O portador deste vírus apresenta um caráter incapaz de suporta as frustrações nem a angústia; não tolera estar encerrado em sua “armadura ou couraça” de caráter neurótico; quer sair dela, visa ao exterior e se expande, como pode, para o campo social.
O indivíduo portador do caráter pestilento possui, em geral, uma estrutura emocional ativa e volúvel. Esta volubilidade pode se entender como um “curto circuito” que faz com que todas as idéias e boas intenções, dissipem-se de um modo ou de outro, antes que possam concentrar-se o suficiente para produzir resultados duráveis. Tudo isso pode ser entendido como um sério distúrbio ou perturbação no trabalho, que adquire importância através do fato de que o caráter pestilento é, muito provavelmente, de um indivíduo potencialmente inteligente, mas portador de grandes frustrações. Esse “curto circuito”, na prática, faz abortar suas grandes capacidades. Frustra o indivíduo que sofre com sua capacidade inibida. Assim, este portador de frustração crônica, que como todas as biopatias, é baseada numa perturbação profunda nas funções sexuais, social e profissional, sofre de uma espécie de impotência orgástica que, por muitas vezes, não pode concluir seus intentos laborativos.
Imagem de internet. 
Estas frustrações provocam o surgimento de um grande ódio movido por uma inveja que só será visível pelo homem ou pela mulher que lutar pela sobrevivência decente do seu amor pela vida.
O indivíduo pestilento apresenta uma “contradição entre seu intenso desejo de vida e sua capacidade básica para preencher adequadamente esta vida” (Reich, 1951). Estas almas vazias sempre buscam sensações fortes para encher sua lacuna existencial, normalmente elas se inclinam para o mal, com algumas exceções. Este caráter empesteado aparece de ponta a ponta, como um ser contraditório em todos os níveis, desde a vivência emocional até à teorização político-social. A peste ou praga emocional pode ser considerada, deste ponto de vista, como uma espécie de neurose coletiva da contradição, conforme citação de R. Dadoun.
Uma grande vitima da peste emocional no século XVI foi Giordano Bruno, ele desenvolveu um sistema de pensamento onde as inter relações entre o corpo e o espírito, o organismo individual e seu ambiente, a unidade e a multiplicidade básica do universo, formaria um todo dentro de uma infinidade de mundos, o universo seria uma malha de energia que se manifesta em todas as coisas em todos os níveis configurando o todo. Esta energia ou alma universal para Bruno se identificava com Deus.
Por esta descoberta, um caminho que conduz a um melhor entendimento de Deus foi condenado a morrer. Sua morte foi uma agonia que durou 9 anos, de 1591 a 1600, até que na manhã do dia 16 de fevereiro foi queimado vivo em praça publica sob as preces dos herdeiros de Cristo, e lançados à chamas em nome do amor de Deus. Mas quem seria seu verdadeiro assassino? A inquisição? A ignorância dos homens? Sua própria descoberta? Não! Sua morte foi produto de uma alma vazia que tentou permanecer as escuras como um cidadão discreto e “direito”. O verdadeiro assassino é um transtorno acidental. Seu real executor foi o nobre de Veneza conhecido pelo insignificante nome de Giovanni Moceningo, ninguém o conhecia antes da execução de Giordano Bruno. Por possuir uma alma estéril e um vazio espiritual, não justificaria Moceningo, assassinar de forma declarada, pois como ele poderia matar alguém, se ele próprio é vazio como o deserto? Seu caráter pestilento procurou com cuidado um motivo para a execução, e semeou a peste de forma extremamente articulada entre aqueles que poderia executar o seu desejo. Desta forma, segundo Reich, fica entendido que: “o que leva ao mal é o desejo genital cruelmente pervertido e frustrado; ele odeia o Amor de Deus, o qual decidiu matar em nome de Deus, de Cristo, de Alá... da ética, da política ou da honra nacional”.
Imagem de internet: Giordano Bruno
Por ter suas origens em uma sexualidade deficiente, a peste emocional ao mesmo tempo, dota o indivíduo de extrema agilidade bioenergética, pois ele tem que abrir portas e canais para escoar suas frustrações de um modo ou de outro. Por exemplo, onde já pré-existe uma maldade, acerca-se habilidosamente de pessoas ou grupos sociais de forma dissimulada, o que demonstra um outro aspecto da peste, que é a covardia, a qual leva o portador a exprimir suas ações de forma clandestina e dissimulada, quando em público. Um exemplo clássico é a relação entre António Salieri e Mozart, onde Salieri, em sua rigidez normativa religiosa que contrariava os impulsos naturais e fisiológicos para estar mais próximo do criador, não conseguia suportar a liberdade de vida de Mozart tão evidenciada em sua própria música e sentindo-se obscurecido teceu “verdades” em relação ao comportamento do brilhante rival Mozart.
Imagem de internet. Salieri vs Mozart
Parece existir um gozo sutil na transmissão e escuta de boatos potencialmente difamatórios, pois é possível observar a expressão de prazer de quem promulga ou escuta mexericos. Na realidade, ninguém pode lhe escapar. Ele passa a buscar aliados e começa, então, a contaminação do vírus da peste emocional: “dizem que”, “você sabia?”, ou fazendo referências, citações que podem ser pedantes ou vulgares, eruditas ou populares, jornalísticas ou acadêmicas, mas infeliz, em última instância, sobre quem os efeitos do escândalo desaba.
Um outro fator a considerar é que o indivíduo contaminado pela peste emocional procura desviar atenções maiores de suas falhas, medos e frustrações, sabotando vidas humanas, tentando bloquear o conhecimento científico, distorcendo tradições sociais e morais em falsos moralismos. Provocando discriminações raciais e apregoando “verdades” religiosas, políticas e científicas, alimenta as fogueiras da inquisição, e se regozija em atirar as últimas pedras. O paradoxo desta peste, é que todos os seus efeitos são visíveis para todos os olhos e, no entanto não é vista por ninguém.
Outro termo que podemos usar para esses indivíduos é “os-que-não-se-vêem” pois o empesteado tem a falsa ideia de que não está sendo visto, porque se comporta como um “dos-que-não-se-vêem”. Mas nós os vemos!
Desse modo, fica uma pergunta: como pode tão ridícula perversidade entrar neste mundo em primeiro lugar, e como pode ela, impassível, devastar organizações humanas de trabalho e paz durante tanto tempo?
Por outro lado, por mais difícil que possa ser a solução para tais problemas, não podemos, nem sequer, tentar resolvê-los, a menos que nos libertemos, com trabalho humano sério, da interferência nociva impregnada pelo caráter pestilento. Devemos buscar ou ser um cirurgião de emoções que saiba como abrir a alma humana sem matar o corpo com uma onda de ódio, que pode se apresentar de diversas formas e múltiplas aparências, mas sempre escondido. É bem possível que todas as regras de boa conduta e cortesias sociais, derivem da necessidade de esconder esse imenso ódio.
Mesmo o indivíduo conhecedor de toda a história da peste emocional, como ela age e como captura suas vítimas quase que não poderia fazer nada, pois logo perceberia que este vírus do ódio sabe proteger-se de qualquer ataque, que cria mecanismo de proteção bloqueando todas as entradas de seu domínio maléfico. Em algumas situações a peste é protegida por suas próprias vítimas.
Para tanto, inicialmente, é necessário que possamos atingir uma certa dose de segurança e efetuar a tarefa de encontrar respostas para as questões da vida.
A maior arma contra a peste emocional é também a mais difícil de ser manuseada - a verdade, pois esta, muitas vezes, é manipulada inconscientemente, como um instinto de defesa para a preservação de quem se diz utilizá-la. Deve-se, pois, chamar a atenção para a vigilância dos princípios éticos de uma consciência voltada para si e para os demais, pois a verdade é a realidade mais pura, o contato mais pleno e imediato entre o ser vivo que percebe a vida que é vivida.
Tentando atingir esse grau de discernimento, buscamos desenvolver nossas funções naturais (a vida em essência) e nos manter firmes em nossos propósitos na busca de uma amplitude existencial saudável.

Algumas normas são eficazes para interferir no desenvolvimento da peste, como indica Reich:
1. Confiar na distinção entre uma expressão facial honesta de uma deformada - coerência.
2. Insistir para que tudo seja às claras - honestidade
3. Usar a arma da verdade com sensatez e determinação, pois o caráter da peste é geralmente covarde e não tem nada para oferecer.
4. Encarar a peste de cabeça erguida. Domine seus sentimentos de culpa e reconheça seus limites.
5. Caso necessário, exponha claramente os seus limites e justificativas pessoais, pois as pessoas compreenderão.
6. Ajude sempre a minimizar a tensão de sentimentos de culpa, sempre que possa, especialmente em questões sexuais, terreno essencial do desenvolvimento da peste emocional.
7. Tenha seus próprios motivos, objetivos e métodos completamente à vista e amplamente visíveis para todos.
8. Aprenda, continuamente, tanto a perceber como enfrentar a mentira dissimulada - experiência.
9. Catalize todos os interesses humanos para problemas importantes e práticos da vida, especialmente a educação de nossas crianças.

Para nós, há poucas dúvidas de que a peste emocional devastadora possa ser dominada. Mas, a partir do momento que tomamos consciência, é possível minimizar seus efeitos, pois, até mesmo um psicoterapeuta com experiência no campo psicológico humano, é passível de contrair esse flagelo. Ele pode ser sua vítima, e, com mais frequência, quando em conexão com as perturbações de sua vida amorosa. Será necessário que todos nós procuremos estar sempre consciente dos objetivos de nossa função como seres humanos, para o desenvolvimento e crescimento de nossa comunidade social e nosso planeta, como estrutura do Universo e estruturas de Deus.

Referência:
DADOUN, Roger Cem flores par Wilhelm Reich. Editora Moraes. São Paulo, 1991.
REICH, Wilhelm. O assassinato de Cristo. Martins Fontes. São Paulo, 1999.
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