BIOSSÍNTESE MORFO-ANALÍTICA
Gestalten Biológica Existencial
PESTE EMOCIONAL
Evilázio Lima
“A
peste emocional aglutina-se em círculos sociais, cuja influência se manifesta,
sobretudo por uma opinião pública de intolerância em relação a tudo o que é
amor natural. É conhecida e temida: sua punição golpeia toda manifestação
amorosa sob falazes pretextos „culturais‟ ou „morais‟. Além disso, põe em
funcionamento um sistema elaborado de difamação e delação”. (WILHELM REICH)
Durante milênios ninguém soube
nada sobre este vírus que infesta às almas vivas. A peste emocional apresenta
suas características próprias, que a tornam temível. O portador deste vírus
apresenta um caráter incapaz de suporta as frustrações nem a angústia; não
tolera estar encerrado em sua “armadura ou couraça” de caráter neurótico; quer
sair dela, visa ao exterior e se expande, como pode, para o campo
social.
O indivíduo portador do caráter
pestilento possui, em geral, uma estrutura emocional ativa e volúvel. Esta
volubilidade pode se entender como um “curto circuito” que faz com que todas as
idéias e boas intenções, dissipem-se de um modo ou de outro, antes que possam
concentrar-se o suficiente para produzir resultados duráveis. Tudo isso pode
ser entendido como um sério distúrbio ou perturbação no trabalho, que adquire
importância através do fato de que o caráter pestilento é, muito provavelmente,
de um indivíduo potencialmente inteligente, mas portador de grandes
frustrações. Esse “curto circuito”, na prática, faz abortar suas grandes
capacidades. Frustra o indivíduo que sofre com sua capacidade inibida. Assim,
este portador de frustração crônica, que como todas as biopatias, é baseada
numa perturbação profunda nas funções sexuais, social e profissional, sofre de
uma espécie de impotência orgástica que, por muitas vezes, não pode concluir
seus intentos laborativos.
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Imagem de internet. |
Estas frustrações provocam o
surgimento de um grande ódio movido por uma inveja que só será visível pelo
homem ou pela mulher que lutar pela sobrevivência decente do seu amor pela
vida.
O indivíduo pestilento apresenta
uma “contradição entre seu intenso desejo de vida e sua capacidade básica
para preencher adequadamente esta vida” (Reich, 1951). Estas almas vazias
sempre buscam sensações fortes para encher sua lacuna existencial, normalmente
elas se inclinam para o mal, com algumas exceções. Este caráter empesteado
aparece de ponta a ponta, como um ser contraditório em todos os níveis, desde a
vivência emocional até à teorização político-social. A peste ou praga emocional
pode ser considerada, deste ponto de vista, como uma espécie de neurose
coletiva da contradição, conforme citação de R. Dadoun.
Uma grande vitima da peste
emocional no século XVI foi Giordano Bruno, ele desenvolveu um sistema de
pensamento onde as inter relações entre o corpo e o espírito, o organismo
individual e seu ambiente, a unidade e a multiplicidade básica do universo,
formaria um todo dentro de uma infinidade de mundos, o universo seria uma malha
de energia que se manifesta em todas as coisas em todos os níveis configurando
o todo. Esta energia ou alma universal para Bruno se identificava com Deus.
Por esta descoberta, um caminho
que conduz a um melhor entendimento de Deus foi condenado a morrer. Sua morte
foi uma agonia que durou 9 anos, de 1591 a 1600, até que na manhã do dia 16 de
fevereiro foi queimado vivo em praça publica sob as preces dos herdeiros de
Cristo, e lançados à chamas em nome do amor de Deus. Mas quem seria seu
verdadeiro assassino? A inquisição? A ignorância dos homens? Sua própria
descoberta? Não! Sua morte foi produto de uma alma vazia que tentou permanecer
as escuras como um cidadão discreto e “direito”. O verdadeiro assassino é um
transtorno acidental. Seu real executor foi o nobre de Veneza conhecido
pelo insignificante nome de Giovanni Moceningo, ninguém o conhecia antes
da execução de Giordano Bruno. Por possuir uma alma estéril e um vazio
espiritual, não justificaria Moceningo, assassinar de forma declarada, pois
como ele poderia matar alguém, se ele próprio é vazio como o deserto? Seu caráter
pestilento procurou com cuidado um motivo para a execução, e semeou a peste de
forma extremamente articulada entre aqueles que poderia executar o seu desejo.
Desta forma, segundo Reich, fica entendido que: “o que leva ao mal é o desejo genital cruelmente pervertido e frustrado;
ele odeia o Amor de Deus, o qual decidiu matar em nome de Deus, de Cristo, de
Alá... da ética, da política ou da honra nacional”.
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Imagem de internet: Giordano Bruno |
Por ter suas origens em uma
sexualidade deficiente, a peste emocional ao mesmo tempo, dota o indivíduo de
extrema agilidade bioenergética, pois ele tem que abrir portas e canais para
escoar suas frustrações de um modo ou de outro. Por exemplo, onde já pré-existe
uma maldade, acerca-se habilidosamente de pessoas ou grupos sociais de forma
dissimulada, o que demonstra um outro aspecto da peste, que é a covardia, a
qual leva o portador a exprimir suas ações de forma clandestina e dissimulada,
quando em público. Um exemplo clássico é a relação
entre António Salieri e Mozart, onde Salieri, em sua rigidez normativa
religiosa que contrariava os impulsos naturais e fisiológicos para estar mais
próximo do criador, não conseguia suportar a liberdade de vida de Mozart tão evidenciada
em sua própria música e sentindo-se obscurecido teceu “verdades” em relação ao
comportamento do brilhante rival Mozart.
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Imagem de internet. Salieri vs Mozart |
Parece existir um gozo sutil na
transmissão e escuta de boatos potencialmente difamatórios, pois é possível
observar a expressão de prazer de quem promulga ou escuta mexericos. Na
realidade, ninguém pode lhe escapar. Ele passa a buscar aliados e começa,
então, a contaminação do vírus da peste emocional: “dizem que”, “você sabia?”,
ou fazendo referências, citações que podem ser pedantes ou vulgares, eruditas
ou populares, jornalísticas ou acadêmicas, mas infeliz, em última instância,
sobre quem os efeitos do escândalo desaba.
Um outro fator a considerar é que
o indivíduo contaminado pela peste emocional procura desviar atenções maiores
de suas falhas, medos e frustrações, sabotando vidas humanas, tentando bloquear
o conhecimento científico, distorcendo tradições sociais e morais em falsos
moralismos. Provocando discriminações raciais e apregoando “verdades”
religiosas, políticas e científicas, alimenta as fogueiras da inquisição, e se
regozija em atirar as últimas pedras. O paradoxo desta peste, é que todos os
seus efeitos são visíveis para todos os olhos e, no entanto não é vista por
ninguém.
Outro termo que podemos usar para
esses indivíduos é “os-que-não-se-vêem” pois o empesteado tem a falsa
ideia de que não está sendo visto, porque se comporta como um “dos-que-não-se-vêem”.
Mas nós os vemos!
Desse modo, fica uma pergunta:
como pode tão ridícula perversidade entrar neste mundo em primeiro lugar, e
como pode ela, impassível, devastar organizações humanas de trabalho e paz
durante tanto tempo?
Por outro lado, por mais difícil
que possa ser a solução para tais problemas, não podemos, nem sequer, tentar
resolvê-los, a menos que nos libertemos, com trabalho humano sério, da
interferência nociva impregnada pelo caráter pestilento. Devemos buscar ou ser
um cirurgião de emoções que saiba como abrir a alma humana sem matar o corpo
com uma onda de ódio, que pode se apresentar de diversas formas e múltiplas
aparências, mas sempre escondido. É bem possível que todas as regras de boa
conduta e cortesias sociais, derivem da necessidade de esconder esse imenso
ódio.
Mesmo o indivíduo conhecedor de
toda a história da peste emocional, como ela age e como captura suas vítimas
quase que não poderia fazer nada, pois logo perceberia que este vírus do ódio
sabe proteger-se de qualquer ataque, que cria mecanismo de proteção bloqueando
todas as entradas de seu domínio maléfico. Em algumas situações a peste é
protegida por suas próprias vítimas.
Para tanto, inicialmente, é
necessário que possamos atingir uma certa dose de segurança e efetuar a tarefa
de encontrar respostas para as questões da vida.
A maior arma contra a peste
emocional é também a mais difícil de ser manuseada - a verdade,
pois esta, muitas vezes, é manipulada inconscientemente, como um instinto de
defesa para a preservação de quem se diz utilizá-la. Deve-se, pois, chamar a
atenção para a vigilância dos princípios éticos de uma consciência voltada para
si e para os demais, pois a verdade é a realidade mais pura, o contato mais
pleno e imediato entre o ser vivo que percebe a vida que é vivida.
Tentando atingir esse grau de
discernimento, buscamos desenvolver nossas funções naturais (a vida em
essência) e nos manter firmes em nossos propósitos na busca de uma amplitude
existencial saudável.
Algumas normas são
eficazes para interferir no desenvolvimento da peste, como indica Reich:
1. Confiar na distinção entre uma
expressão facial honesta de uma deformada - coerência.
2. Insistir para que tudo seja às
claras - honestidade
3. Usar a arma da verdade com
sensatez e determinação, pois o caráter da peste é geralmente covarde e não tem
nada para oferecer.
4. Encarar a peste de cabeça
erguida. Domine seus sentimentos de culpa e reconheça seus limites.
5. Caso necessário, exponha
claramente os seus limites e justificativas pessoais, pois as pessoas
compreenderão.
6. Ajude sempre a minimizar a
tensão de sentimentos de culpa, sempre que possa, especialmente em questões
sexuais, terreno essencial do desenvolvimento da peste emocional.
7. Tenha seus próprios motivos,
objetivos e métodos completamente à vista e amplamente visíveis para todos.
8. Aprenda, continuamente, tanto
a perceber como enfrentar a mentira dissimulada - experiência.
9.
Catalize todos os interesses humanos para problemas importantes e práticos da
vida, especialmente a educação de nossas crianças.
Para nós, há poucas dúvidas de
que a peste emocional devastadora possa ser dominada. Mas, a partir do momento
que tomamos consciência, é possível minimizar seus efeitos, pois, até mesmo um
psicoterapeuta com experiência no campo psicológico humano, é passível de
contrair esse flagelo. Ele pode ser sua vítima, e, com mais frequência, quando
em conexão com as perturbações de sua vida amorosa. Será necessário que todos
nós procuremos estar sempre consciente dos objetivos de nossa função como seres
humanos, para o desenvolvimento e crescimento de nossa comunidade social e
nosso planeta, como estrutura do Universo e estruturas de Deus.
Referência:
DADOUN,
Roger Cem flores par Wilhelm Reich. Editora Moraes. São Paulo, 1991.
REICH, Wilhelm. O
assassinato de Cristo. Martins Fontes. São Paulo, 1999.
Jornal o Fisco, página 8 http://www.asfal.com.br/wp-content/uploads/2007/04/4CA36B14-CCA2-42FB-8872-3503B3DA9D1E_OFISCO70.pdf
Jornal o Fisco, página 8 http://www.asfal.com.br/wp-content/uploads/2007/04/4CA36B14-CCA2-42FB-8872-3503B3DA9D1E_OFISCO70.pdf
A menos que nosso coração, nossa alma, e todo nosso ser estejam atrás de toda decisão que tomamos, as palavras de nossa boca estarão vazias, e cada ação será sem sentido. Verdade e confiança são as raízes de felicidade.
ResponderExcluirMuito interessante!!! Parabéns pelo artigo!!!
ResponderExcluirAntônio Paiva
Mas acho que nesta vida, de todos os julgamentos, o mais importante é o que fazemos sobre nós mesmos...
ResponderExcluirZélia Garcia/MG