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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

PESTE EMOCIONAL

BIOSSÍNTESE MORFO-ANALÍTICA
Gestalten Biológica Existencial

PESTE EMOCIONAL
Evilázio Lima

“A peste emocional aglutina-se em círculos sociais, cuja influência se manifesta, sobretudo por uma opinião pública de intolerância em relação a tudo o que é amor natural. É conhecida e temida: sua punição golpeia toda manifestação amorosa sob falazes pretextos „culturais‟ ou „morais‟. Além disso, põe em funcionamento um sistema elaborado de difamação e delação”. (WILHELM REICH)

Durante milênios ninguém soube nada sobre este vírus que infesta às almas vivas. A peste emocional apresenta suas características próprias, que a tornam temível. O portador deste vírus apresenta um caráter incapaz de suporta as frustrações nem a angústia; não tolera estar encerrado em sua “armadura ou couraça” de caráter neurótico; quer sair dela, visa ao exterior e se expande, como pode, para o campo social.
O indivíduo portador do caráter pestilento possui, em geral, uma estrutura emocional ativa e volúvel. Esta volubilidade pode se entender como um “curto circuito” que faz com que todas as idéias e boas intenções, dissipem-se de um modo ou de outro, antes que possam concentrar-se o suficiente para produzir resultados duráveis. Tudo isso pode ser entendido como um sério distúrbio ou perturbação no trabalho, que adquire importância através do fato de que o caráter pestilento é, muito provavelmente, de um indivíduo potencialmente inteligente, mas portador de grandes frustrações. Esse “curto circuito”, na prática, faz abortar suas grandes capacidades. Frustra o indivíduo que sofre com sua capacidade inibida. Assim, este portador de frustração crônica, que como todas as biopatias, é baseada numa perturbação profunda nas funções sexuais, social e profissional, sofre de uma espécie de impotência orgástica que, por muitas vezes, não pode concluir seus intentos laborativos.
Imagem de internet. 
Estas frustrações provocam o surgimento de um grande ódio movido por uma inveja que só será visível pelo homem ou pela mulher que lutar pela sobrevivência decente do seu amor pela vida.
O indivíduo pestilento apresenta uma “contradição entre seu intenso desejo de vida e sua capacidade básica para preencher adequadamente esta vida” (Reich, 1951). Estas almas vazias sempre buscam sensações fortes para encher sua lacuna existencial, normalmente elas se inclinam para o mal, com algumas exceções. Este caráter empesteado aparece de ponta a ponta, como um ser contraditório em todos os níveis, desde a vivência emocional até à teorização político-social. A peste ou praga emocional pode ser considerada, deste ponto de vista, como uma espécie de neurose coletiva da contradição, conforme citação de R. Dadoun.
Uma grande vitima da peste emocional no século XVI foi Giordano Bruno, ele desenvolveu um sistema de pensamento onde as inter relações entre o corpo e o espírito, o organismo individual e seu ambiente, a unidade e a multiplicidade básica do universo, formaria um todo dentro de uma infinidade de mundos, o universo seria uma malha de energia que se manifesta em todas as coisas em todos os níveis configurando o todo. Esta energia ou alma universal para Bruno se identificava com Deus.
Por esta descoberta, um caminho que conduz a um melhor entendimento de Deus foi condenado a morrer. Sua morte foi uma agonia que durou 9 anos, de 1591 a 1600, até que na manhã do dia 16 de fevereiro foi queimado vivo em praça publica sob as preces dos herdeiros de Cristo, e lançados à chamas em nome do amor de Deus. Mas quem seria seu verdadeiro assassino? A inquisição? A ignorância dos homens? Sua própria descoberta? Não! Sua morte foi produto de uma alma vazia que tentou permanecer as escuras como um cidadão discreto e “direito”. O verdadeiro assassino é um transtorno acidental. Seu real executor foi o nobre de Veneza conhecido pelo insignificante nome de Giovanni Moceningo, ninguém o conhecia antes da execução de Giordano Bruno. Por possuir uma alma estéril e um vazio espiritual, não justificaria Moceningo, assassinar de forma declarada, pois como ele poderia matar alguém, se ele próprio é vazio como o deserto? Seu caráter pestilento procurou com cuidado um motivo para a execução, e semeou a peste de forma extremamente articulada entre aqueles que poderia executar o seu desejo. Desta forma, segundo Reich, fica entendido que: “o que leva ao mal é o desejo genital cruelmente pervertido e frustrado; ele odeia o Amor de Deus, o qual decidiu matar em nome de Deus, de Cristo, de Alá... da ética, da política ou da honra nacional”.
Imagem de internet: Giordano Bruno
Por ter suas origens em uma sexualidade deficiente, a peste emocional ao mesmo tempo, dota o indivíduo de extrema agilidade bioenergética, pois ele tem que abrir portas e canais para escoar suas frustrações de um modo ou de outro. Por exemplo, onde já pré-existe uma maldade, acerca-se habilidosamente de pessoas ou grupos sociais de forma dissimulada, o que demonstra um outro aspecto da peste, que é a covardia, a qual leva o portador a exprimir suas ações de forma clandestina e dissimulada, quando em público. Um exemplo clássico é a relação entre António Salieri e Mozart, onde Salieri, em sua rigidez normativa religiosa que contrariava os impulsos naturais e fisiológicos para estar mais próximo do criador, não conseguia suportar a liberdade de vida de Mozart tão evidenciada em sua própria música e sentindo-se obscurecido teceu “verdades” em relação ao comportamento do brilhante rival Mozart.
Imagem de internet. Salieri vs Mozart
Parece existir um gozo sutil na transmissão e escuta de boatos potencialmente difamatórios, pois é possível observar a expressão de prazer de quem promulga ou escuta mexericos. Na realidade, ninguém pode lhe escapar. Ele passa a buscar aliados e começa, então, a contaminação do vírus da peste emocional: “dizem que”, “você sabia?”, ou fazendo referências, citações que podem ser pedantes ou vulgares, eruditas ou populares, jornalísticas ou acadêmicas, mas infeliz, em última instância, sobre quem os efeitos do escândalo desaba.
Um outro fator a considerar é que o indivíduo contaminado pela peste emocional procura desviar atenções maiores de suas falhas, medos e frustrações, sabotando vidas humanas, tentando bloquear o conhecimento científico, distorcendo tradições sociais e morais em falsos moralismos. Provocando discriminações raciais e apregoando “verdades” religiosas, políticas e científicas, alimenta as fogueiras da inquisição, e se regozija em atirar as últimas pedras. O paradoxo desta peste, é que todos os seus efeitos são visíveis para todos os olhos e, no entanto não é vista por ninguém.
Outro termo que podemos usar para esses indivíduos é “os-que-não-se-vêem” pois o empesteado tem a falsa ideia de que não está sendo visto, porque se comporta como um “dos-que-não-se-vêem”. Mas nós os vemos!
Desse modo, fica uma pergunta: como pode tão ridícula perversidade entrar neste mundo em primeiro lugar, e como pode ela, impassível, devastar organizações humanas de trabalho e paz durante tanto tempo?
Por outro lado, por mais difícil que possa ser a solução para tais problemas, não podemos, nem sequer, tentar resolvê-los, a menos que nos libertemos, com trabalho humano sério, da interferência nociva impregnada pelo caráter pestilento. Devemos buscar ou ser um cirurgião de emoções que saiba como abrir a alma humana sem matar o corpo com uma onda de ódio, que pode se apresentar de diversas formas e múltiplas aparências, mas sempre escondido. É bem possível que todas as regras de boa conduta e cortesias sociais, derivem da necessidade de esconder esse imenso ódio.
Mesmo o indivíduo conhecedor de toda a história da peste emocional, como ela age e como captura suas vítimas quase que não poderia fazer nada, pois logo perceberia que este vírus do ódio sabe proteger-se de qualquer ataque, que cria mecanismo de proteção bloqueando todas as entradas de seu domínio maléfico. Em algumas situações a peste é protegida por suas próprias vítimas.
Para tanto, inicialmente, é necessário que possamos atingir uma certa dose de segurança e efetuar a tarefa de encontrar respostas para as questões da vida.
A maior arma contra a peste emocional é também a mais difícil de ser manuseada - a verdade, pois esta, muitas vezes, é manipulada inconscientemente, como um instinto de defesa para a preservação de quem se diz utilizá-la. Deve-se, pois, chamar a atenção para a vigilância dos princípios éticos de uma consciência voltada para si e para os demais, pois a verdade é a realidade mais pura, o contato mais pleno e imediato entre o ser vivo que percebe a vida que é vivida.
Tentando atingir esse grau de discernimento, buscamos desenvolver nossas funções naturais (a vida em essência) e nos manter firmes em nossos propósitos na busca de uma amplitude existencial saudável.

Algumas normas são eficazes para interferir no desenvolvimento da peste, como indica Reich:
1. Confiar na distinção entre uma expressão facial honesta de uma deformada - coerência.
2. Insistir para que tudo seja às claras - honestidade
3. Usar a arma da verdade com sensatez e determinação, pois o caráter da peste é geralmente covarde e não tem nada para oferecer.
4. Encarar a peste de cabeça erguida. Domine seus sentimentos de culpa e reconheça seus limites.
5. Caso necessário, exponha claramente os seus limites e justificativas pessoais, pois as pessoas compreenderão.
6. Ajude sempre a minimizar a tensão de sentimentos de culpa, sempre que possa, especialmente em questões sexuais, terreno essencial do desenvolvimento da peste emocional.
7. Tenha seus próprios motivos, objetivos e métodos completamente à vista e amplamente visíveis para todos.
8. Aprenda, continuamente, tanto a perceber como enfrentar a mentira dissimulada - experiência.
9. Catalize todos os interesses humanos para problemas importantes e práticos da vida, especialmente a educação de nossas crianças.

Para nós, há poucas dúvidas de que a peste emocional devastadora possa ser dominada. Mas, a partir do momento que tomamos consciência, é possível minimizar seus efeitos, pois, até mesmo um psicoterapeuta com experiência no campo psicológico humano, é passível de contrair esse flagelo. Ele pode ser sua vítima, e, com mais frequência, quando em conexão com as perturbações de sua vida amorosa. Será necessário que todos nós procuremos estar sempre consciente dos objetivos de nossa função como seres humanos, para o desenvolvimento e crescimento de nossa comunidade social e nosso planeta, como estrutura do Universo e estruturas de Deus.

Referência:
DADOUN, Roger Cem flores par Wilhelm Reich. Editora Moraes. São Paulo, 1991.
REICH, Wilhelm. O assassinato de Cristo. Martins Fontes. São Paulo, 1999.
Jornal o Fisco, página 8 http://www.asfal.com.br/wp-content/uploads/2007/04/4CA36B14-CCA2-42FB-8872-3503B3DA9D1E_OFISCO70.pdf

3 comentários:

  1. A menos que nosso coração, nossa alma, e todo nosso ser estejam atrás de toda decisão que tomamos, as palavras de nossa boca estarão vazias, e cada ação será sem sentido. Verdade e confiança são as raízes de felicidade.

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  2. Muito interessante!!! Parabéns pelo artigo!!!
    Antônio Paiva

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  3. Mas acho que nesta vida, de todos os julgamentos, o mais importante é o que fazemos sobre nós mesmos...
    Zélia Garcia/MG

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