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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Aspectos Psicossomáticos da Dor

Aspectos Psicossomáticos da Dor



Um dos aspectos inerentes a todo ser humano é a capacidade de perceber, sentir e elaborar sentimentos. Tais sentimentos se expressam dentro de um padrão específico em um meio sócio-cultural. Também não se podem eliminar os potenciais genéticos que produzem padrões flexíveis sob influência de fatores externos.

A depender de como o indivíduo e seus potenciais interagem com o meio ambiente, dentro de uma área afetiva, cria-se uma simbologia própria de cada ser humano, em um comportamento idealizado para a coexistência.

A forma mais importante de contato que estabelecemos com nossos processos subjetivos é a emoção. Percebemos que, a partir de todo estímulo, externo ou interno, dependendo de sua intensidade imediata e afetos individuais, poderá se desencadear uma situação conflitante e surgir uma sensação dolorosa que presentifica a ação do estresse.

As sensações dolorosas vivenciadas pela maioria das pessoas podem resultar de uma ação mecânica externa, provocadora de lesões, ou de origem interna, através de uma hiper ou hipo função de um determinado órgão ou sistema.

As dores, normalmente, se apresentam de duas formas: agudas, quando mais facilmente se determina sua causa, ou crônicas, de difícil determinação e que parecem fazer parte da vida do indivíduo. Essas duas formas se comprometem com os processos fisiológicos do organismo, mas, no entanto, uma terceira forma se configura e se entremeia às outras. É a dor psicológica, a dor da alma.

Desde os tempos mais remotos, a dor tem tido profundas raízes morais e religiosas, podendo representar a vontade divina, ou um “elixir” para limpar a alma (Karma).



E QUAL SERIA, ENTÃO, O SENTIDO DA DOR NA NOSSA EXISTÊNCIA?



O que nos parece mais óbvio, é que a dor equaliza os seres humanos independente de sua estratificação social, cultural, étnica e religiosa. Leva todas as pessoas a se centrar em suas angústias e necessidades nos momentos de crise. Portanto, a dor parece ter um papel predominante na resolução das crises, e crise é, em última instância, dor.

Em relação ao fator psicogênico, este se manifesta dentro das percepções afetivas que estimulam os movimentos emocionais, juntamente com os processos intelectuais – o mundo das idéias. Psiquismo é alma e alma é a essência que nos liga aos processos espirituais.

A nossa existência tem por base dois elementos: a energia que mobiliza os processos da vida e a consciência que nos permite conhecer e direcionar esta energia.

Para existir a dor, é necessário um substrato, e este é o nosso corpo que é dividido em três funções interligadas dentro das concepções da Biossíntese Morfoanalítica:

• Percepção – Ectoderma;

• Elaboração – Endoderma;

• Manifestação – Mesoderma.



A dor surge quando o indivíduo está impossibilitado de manifestar suas percepções, sobrecarregando o sistema orgânico de necessidades que não são satisfeitas (frustrações, angústias, repressões, medo, raiva...).

O nosso corpo é composto de um sistema articulado ósseo (esqueleto), envolvido por uma estrutura contrátil (músculos), e estes por uma última camada que é a nossa pele, onde encontramos a maioria dos receptores sensoriais distribuídos, em maior ou menor número, ao longo dos tecidos epiteliais.

Graças a estes receptores, temos as informações dos meios externo e interno que nos ditam, dependendo da sensação de prazer ou dor, o modo de agir.

A dor física, durante muitos séculos, foi tida como o terror da humanidade, e muito se fez para tentar minimizar este sofrimento. As tentativas iam, desde o campo místico, passando pela utilização de ervas, estudos alquímicos, os quais procuravam, através da relação entre os metais, sal, enxofre e o éter sulfúrico, encontrar a solução para o problema. Isto abriu espaço para um grande número de pesquisas nesse sentido e, nos dias de hoje, os processos dolorosos ao nível físico se encontram, praticamente, sob controle.

Apesar dos modernos medicamentos, muitas dores, não só as de base física, quanto às de base psicológica, não respondem aos tratamentos atuais.

Uma terapia milenar, que cada vez mais se faz presente na área de saúde, a acupuntura, vem trazendo uma solução alternativa aos tratamentos convencionais, pois os chineses há 6000 anos, já travavam guerra contra as dores através de acupuntura. Para eles, o equilíbrio da saúde dependia da energia que circulava no organismo por linhas na superfície do corpo. Tais linhas contêm pontos onde se pode inserir uma agulha, ou mais modernamente, a radiação laser, que é capaz de reorganizar o fluxo de energia para o equilíbrio da saúde e dos processos dolorosos.

Os textos antigos de acupuntura afirmam que se o psiquismo está em paz, equilibrado, o indivíduo estará menos exposto a enfermidades.

Hoje, já se comprovou que o psiquismo tem um importante papel na vulnerabilidade do organismo às doenças, pois a depender do tipo da dor ou da enfermidade, expressam de uma maneira simbólica, conteúdos inconscientes, latentes, que podem contribuir para a manutenção ou erradicação (quando entendidos – psicoterapias) dos processos dolorosos.


Dr. Evilázio Lima
Psicólogo Clínico e  Acupunturista



3 comentários:

  1. Dr Evilázio! Acho que a dor diretamente não leva a morte, mas pode levar. Alguns cientistas afirmam que a dor crônica debilita o sistema imunológico, facilitando o surgimento e desenvolvimento de doenças fatais, como o câncer, mas psicologicamente a pessoa que passa por um trauma (dor) pode morrer com essa experiência emocional???
    Beatriz Cunha BH/MG

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  2. Prezada Beatriz,

    Na realidade qualquer tipo de dor é um alerta que nos diz que existe algo errado conosco ou em nós, as dores por injúrias mecânicas podem ter uma grande interferência emocional, principalmente quando estas lesões se tornam fatores limitantes do nosso organismo, enquanto que outras de menor extensão podem passar sem maiores significados.
    Em relação às dores emocionais: estas muitas vezes dão a sensação de “cortar ou rasgar nossa alma” e quando saímos da crise estaremos carregando cicatrizes profundas em nosso âmago. Geralmente estas dores estão associadas a perdas afetivas e efetivas, quero dizer morte de alguém ou o afastamento de uma pessoa querida como perda de laços afetivos. Quando estas questões não são resolvidas podem ser desencadeados quadros depressivos, atitudes defensivas de raiva, angústia ou processos eufóricos como a tentativa do organismo como um todo criar uma compensação em relação a estes sentimentos de perda.
    Outra questão é quanto à temporalidade e a forma como o indivíduo nutre a permanência destes sentimentos e sensações. Como podemos observar, estes processos emocionais são campos de energia polarizadoras de alterações psicofisiológicas, que com o tempo vão drenar a capacidade do organismo se reestruturar. Dependendo de cada pessoa uma sintomatologia tomará forma e terá que ser tratada, pois caso contrário, o organismo descompensado entrará em caquexia e muitas vezes à morte. Portanto, tratar uma dor não é apenas se olhar os sintomas, mas sim, procurar entender e traduzir de forma contextualizada a linguagem simbólica desses sintomas.

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  3. Publicado também na ABMP:

    Lima, J. E. (30 de outubro de 2011). Aspectos Psicossomáticos da dor. Fonte: ABMP Associação Brasileira de Medicina Psicossomática: http://www.psicossomatica.org.br/blog/ler.asp?cod=60

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