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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

DORES DE UM SENTIMENTO NÃO MANIFESTO.


Biossíntese Morfo-Analítica
DORES DE UM SENTIMENTO NÃO MANIFESTO.
Evilázio Lima

Ao publicar um artigo, sobre os “Aspectos Psicossomáticos da Dor” uma pessoa levantou a seguinte questão:
Dr Evilázio! Acho que a dor diretamente não leva a morte, mas pode levar. Alguns cientistas afirmam que a dor crônica debilita o sistema imunológico, facilitando o surgimento e desenvolvimento de doenças fatais, como o câncer, mas psicologicamente a pessoa que passa por um trauma (dor) pode morrer com essa experiência emocional?
E minha resposta:
Na realidade qualquer tipo de dor é um alerta que nos diz que existe algo errado conosco ou em nós. As dores por injúrias mecânicas podem ter uma grande interferência emocional. Principalmente quando estas lesões se tornam fatores limitantes do nosso organismo, enquanto outras de menor extensão podem passar sem maiores significados.
Em relação às dores emocionais: estas muitas vezes dão a sensação de “cortar ou rasgar nossa alma” e quando saímos da crise estaremos carregando cicatrizes profundas em nosso âmago. Geralmente estas dores estão associadas a perdas afetivas e efetivas, quero dizer morte de alguém ou o afastamento de uma pessoa querida com o rompimento de laços afetivos restando sentimentos de amargura ou ainda ropturas profissionais e crises económicas. Quando estas questões não são resolvidas podem ser desencadeados quadros depressivos, atitudes defensivas de raiva, angústia ou processos eufóricos como se tudo estivesse “sempre bem”, na tentativa do organismo como um todo de criar uma compensação em relação a estes sentimentos de perda.
Outra questão é quanto à temporalidade e a forma como o indivíduo nutre a permanência destes sentimentos e sensações. Como podemos observar, estes processos emocionais são campos de energias polarizadoras de alterações psicofisiológicas, que com o tempo vão drenar a capacidade do organismo de se reestruturar. Dependendo de cada pessoa uma sintomatologia tomará forma e terá que ser tratada, pois caso contrário, o organismo descompensado entrará em caquexia e muitas vezes à morte. Portanto, tratar uma dor não é apenas olhar os sintomas, mas sim, procurar entender e traduzir de forma contextualizada a linguagem simbólica desses sintomas.
Portanto, todas as manifestações humanas não podem ser caracterizadas no binómio da mente e do corpo, mas sim em uma relação intrínseca psicossomática, pois não há uma manifestação puramente psíquica ou corporal, mas sim uma síntese entre sentimentos, sensações e mobilizações histoquímicas para a manifestação global do comportamento. Todas as nossas ações têm por base uma linguagem simbólica sempre associada às experiências com grandes significados, podendo estes serem tanto positivos como negativos.
Quando estes significados são positivos, entendo-o como ressonante às necessidades organísmicas, promovendo uma sensação de bem-estar e uma maior disposição para a vida com crescimento e criatividade, quando ao contrário, o significado é de uma conotação negativa, este cria padrões dissonantes que interferem nos princípios de equilíbrio e de regulação do organismo ou o princípio homeostásico defendido por Canon (1963). Como podemos entender, o expressar de sintomas se configura segundo Groddeck (2012), pela simbolização ou uma linguagem implícita que está velada nos processos inconscientes de evitação das dores existenciais, pois para ele todo o sintoma tem um valor simbólico por considerar o ser humano inato para a simbolização.
Em Biossíntese Morfo-Analítica a forma/pensamento é uma síntese de um conglomerado de ideias sobre às múltiplas experiências do existir. Quando os processos ressonantes se desenvolvem, maior é a capacidade de flexibilização na busca de novos conceptos para enfrentar as adversidades, portanto, nossas crenças, ideias e valores culturais serão sempre uma síntese biológica e existencial adaptativa gerando uma forma de SER.
A nossa capacidade de perceber, sentir e elaborar sentimentos, expressa-se dentro de um padrão específico em um meio sócio-cultural. Também não se podem eliminar os potenciais genéticos que produzem padrões flexíveis sob influência de fatores externos, e a depender de como o indivíduo e seus potenciais interagem com o meio ambiente, dentro de uma área afetiva, cria-se uma simbologia própria de cada ser humano, em um comportamento idealizado para a coexistência.
A forma mais importante de contato que estabelecemos com nossos processos subjetivos é a emoção e as dores de um sentimento não manifesto, que podem ser percebidas a partir de estímulos, externos ou internos, e a depender de sua intensidade imediata e afetos individuais, poderá se desencadear uma situação conflitante e surgir uma sensação dolorosa que presentifica a ação do estresse, que em continuidade se cronificará em distresse com todas as manifestações possíveis sempre estruturadas na melhor forma encontrada pelo indivíduo. Esta melhor forma não necessariamente é a melhor, mas se apresenta como um reflexo adaptativo em um sintoma que contem em si a linguagem subjetiva do NÃO MANIFESTO.
Muitas vezes nossa aparência é alegre, triste, colérica, depressiva, saudável ou doentia, mas para um bom observador tudo isto são personas, personagens que tem um único objetivo de esconder a dor. Esta é a dor que o indivíduo não pode esconder de si mesmo, pois segundo Abraham Lincoln (1809) “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”, principalmente a si, pois o elemento biológico em sua corporificação reage em continuum, às agressões sentidas, percebidas e guardadas.
A depender dos sintomas evidenciados, de aparência mais orgânica ou psicológica, podem ser minimizados ou extintos pelos processos de decisão elaborados no sentido do entendimento da linguagem implícita do não manifesto. Isto consiste no desenvolvimento reflexivo de dobrar-se sobre si mesmo e a partir de então criar competências que lhe possibilitem o livre expressar de seus pensamentos, desejos, vontades e ações. No entanto, estes aspetos devem estar em um substrato ético em que nossas ações possam ser livres, mas não invadir os limites alheios.
Quando um relacionamento não faz mais sentido, o cotidiano é tedioso e não lhe traz prazer, o grupo social ao qual você convive não comungam com suas ideias, suas relações profissionais são desgastantes ou pessoas com as quais você convive só agem por interesse e demonstram falsidades, este tipo de convivência terá um efeito acumulativo que em algum momento abrirá as chaves de suas pré-disposições para expressar uma sintomatologia patológica.
Geralmente nosso desenvolvimento é marcado com sentimentos reprimidos baseados em valores cerceativos que nos impedem de chorar, experienciar e expressar nossa sexualidade, conceitos do “certo e errado” e assim, vamos cultivando uma gama de sentimentos reprimidos, que ficam a sombra da polaridade de sentimentos como a raiva para esconder, a tristeza, a tristeza para esconder a dor, o medo para esconder a raiva. Quanto mais nos seguramos, mais alimentamos o poder destruidor da estagnação de sentimentos. Esta forma de reação emocional é a alavanca que mobiliza reações fisiológicas que diminuem o potencial do nosso sistema imunológico, que quando fragilizado deixa de contenção às anomalias latentes, tanto ao nível genético e celular como na funcionalidade de determinados sistemas metabólicos orgânicos.
Nossas mente tem a capacidade de elaborar, quando bem instrumentalizada os sentimentos e emoções, com consequente auxílio na recuperação e cura de diversas patologias. E assim nossa sugestão é: PENSE, REFLITA, CRIE, E FAÇA DIFERENTE, POIS POR MAIS DIFICÍL QUE PAREÇA, EXISTE SEMPRE UM NOVO CAMINHO. UMA NOVA POSSIBILIDADE!

Bibliografia



Cannon, W. B. (1963). The wisdom of the body. New York: W.W. Norton.
Groddeck, G. (2012). O livro disso (4ª ed.). São Paulo, Brasil: Perspectiva.
Lima, J. E. (30 de outubro de 2011). Aspectos Psicossomáticos da dor. Fonte: ABMP Associação Brasileira de Medicina Psicossomática: http://www.psicossomatica.org.br/blog/ler.asp?cod=60
Lima, J. E. (2013). Currículo Lattes detalhado acessar o endereço: http://lattes.cnpq.br/1292454437564950.