Biossíntese
Morfo-Analítica
DORES
DE UM SENTIMENTO NÃO MANIFESTO.
Evilázio Lima
Ao
publicar um artigo, sobre os “Aspectos Psicossomáticos da Dor” uma pessoa
levantou a seguinte questão:
Dr
Evilázio! Acho que a dor diretamente não leva a morte, mas pode levar. Alguns
cientistas afirmam que a dor crônica debilita o sistema imunológico,
facilitando o surgimento e desenvolvimento de doenças fatais, como o câncer,
mas psicologicamente a pessoa que passa por um trauma (dor) pode morrer com
essa experiência emocional?
E
minha resposta:
Na
realidade qualquer tipo de dor é um alerta que nos diz que existe algo errado
conosco ou em nós. As dores por injúrias mecânicas podem ter uma grande
interferência emocional. Principalmente quando estas lesões se tornam fatores
limitantes do nosso organismo, enquanto outras de menor extensão podem passar
sem maiores significados.
Em
relação às dores emocionais: estas muitas vezes dão a sensação de “cortar ou
rasgar nossa alma” e quando saímos da crise estaremos carregando cicatrizes
profundas em nosso âmago. Geralmente estas dores estão associadas a perdas
afetivas e efetivas, quero dizer morte de alguém ou o afastamento de uma pessoa
querida com o rompimento de laços afetivos restando sentimentos de amargura ou
ainda ropturas profissionais e crises económicas. Quando estas questões não são
resolvidas podem ser desencadeados quadros depressivos, atitudes defensivas de
raiva, angústia ou processos eufóricos como se tudo estivesse “sempre bem”, na
tentativa do organismo como um todo de criar uma compensação em relação a estes
sentimentos de perda.
Outra
questão é quanto à temporalidade e a forma como o indivíduo nutre a permanência
destes sentimentos e sensações. Como podemos observar, estes processos
emocionais são campos de energias polarizadoras de alterações
psicofisiológicas, que com o tempo vão drenar a capacidade do organismo de se
reestruturar. Dependendo de cada pessoa uma sintomatologia tomará forma e terá
que ser tratada, pois caso contrário, o organismo descompensado entrará em
caquexia e muitas vezes à morte. Portanto, tratar uma dor não é apenas olhar os
sintomas, mas sim, procurar entender e traduzir de forma contextualizada a
linguagem simbólica desses sintomas.
Portanto,
todas as manifestações humanas não podem ser caracterizadas no binómio da mente
e do corpo, mas sim em uma relação intrínseca psicossomática, pois não há uma
manifestação puramente psíquica ou corporal, mas sim uma síntese entre
sentimentos, sensações e mobilizações histoquímicas para a manifestação global
do comportamento. Todas as nossas ações têm por base uma linguagem simbólica
sempre associada às experiências com grandes significados, podendo estes serem
tanto positivos como negativos.
Quando
estes significados são positivos, entendo-o como ressonante às necessidades
organísmicas, promovendo uma sensação de bem-estar e uma maior disposição para
a vida com crescimento e criatividade, quando ao contrário, o significado é de uma
conotação negativa, este cria padrões dissonantes que interferem nos princípios
de equilíbrio e de regulação do organismo ou o princípio homeostásico defendido
por Canon (1963). Como podemos entender, o expressar de sintomas se configura
segundo Groddeck (2012), pela simbolização ou uma linguagem implícita que está
velada nos processos inconscientes de evitação das dores existenciais, pois
para ele todo o sintoma tem um valor simbólico por considerar o ser humano
inato para a simbolização.
Em
Biossíntese Morfo-Analítica a forma/pensamento é uma síntese de um conglomerado de ideias sobre às múltiplas
experiências do existir. Quando os processos ressonantes se desenvolvem, maior
é a capacidade de flexibilização na busca de novos conceptos para enfrentar as
adversidades, portanto, nossas crenças, ideias e valores culturais serão sempre
uma síntese biológica e existencial adaptativa gerando uma forma de SER.
A nossa capacidade de perceber, sentir e
elaborar sentimentos, expressa-se dentro de um padrão específico em um meio
sócio-cultural. Também não se podem eliminar os potenciais genéticos que
produzem padrões flexíveis sob influência de fatores externos, e a depender de
como o indivíduo e seus potenciais interagem com o meio ambiente, dentro de uma
área afetiva, cria-se uma simbologia própria de cada ser humano, em um
comportamento idealizado para a coexistência.
A forma mais importante de contato que
estabelecemos com nossos processos subjetivos é a emoção e as dores de um
sentimento não manifesto, que podem ser percebidas a partir de estímulos,
externos ou internos, e a depender de sua intensidade imediata e afetos
individuais, poderá se desencadear uma situação conflitante e surgir uma
sensação dolorosa que presentifica a ação do estresse, que em continuidade se
cronificará em distresse com todas as manifestações possíveis sempre
estruturadas na melhor forma encontrada pelo indivíduo. Esta melhor forma não
necessariamente é a melhor, mas se apresenta como um reflexo adaptativo em um
sintoma que contem em si a linguagem subjetiva do NÃO MANIFESTO.
Muitas vezes nossa aparência é alegre,
triste, colérica, depressiva, saudável ou doentia, mas para um bom observador
tudo isto são personas, personagens que tem um único objetivo de esconder a
dor. Esta é a dor que o indivíduo não pode esconder de si mesmo, pois segundo
Abraham Lincoln (1809) “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se
enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”,
principalmente a si, pois o elemento biológico em sua corporificação reage em
continuum, às agressões sentidas, percebidas e guardadas.
A depender dos sintomas evidenciados, de
aparência mais orgânica ou psicológica, podem ser minimizados ou extintos pelos
processos de decisão elaborados no sentido do entendimento da linguagem
implícita do não manifesto. Isto consiste no desenvolvimento reflexivo de
dobrar-se sobre si mesmo e a partir de então criar competências que lhe
possibilitem o livre expressar de seus pensamentos, desejos, vontades e ações.
No entanto, estes aspetos devem estar em um substrato ético em que nossas ações
possam ser livres, mas não invadir os limites alheios.
Quando um relacionamento não faz mais
sentido, o cotidiano é tedioso e não lhe traz prazer, o grupo social ao qual
você convive não comungam com suas ideias, suas relações profissionais são desgastantes
ou pessoas com as quais você convive só agem por interesse e demonstram
falsidades, este tipo de convivência terá um efeito acumulativo que em algum
momento abrirá as chaves de suas pré-disposições para expressar uma
sintomatologia patológica.
Geralmente nosso desenvolvimento é marcado
com sentimentos reprimidos baseados em valores cerceativos que nos impedem de
chorar, experienciar e expressar nossa sexualidade, conceitos do “certo e
errado” e assim, vamos cultivando uma gama de sentimentos reprimidos, que ficam
a sombra da polaridade de sentimentos como a raiva para esconder, a tristeza, a
tristeza para esconder a dor, o medo para esconder a raiva. Quanto mais nos
seguramos, mais alimentamos o poder destruidor da estagnação de sentimentos.
Esta forma de reação emocional é a alavanca que mobiliza reações fisiológicas
que diminuem o potencial do nosso sistema imunológico, que quando fragilizado
deixa de contenção às anomalias latentes, tanto ao nível genético e celular
como na funcionalidade de determinados sistemas metabólicos orgânicos.
Nossas mente tem a capacidade de elaborar,
quando bem instrumentalizada os sentimentos e emoções, com consequente auxílio
na recuperação e cura de diversas patologias. E assim nossa sugestão é: PENSE, REFLITA,
CRIE, E FAÇA DIFERENTE, POIS POR MAIS DIFICÍL QUE PAREÇA, EXISTE SEMPRE UM NOVO
CAMINHO. UMA NOVA POSSIBILIDADE!
Bibliografia
Cannon, W. B. (1963). The wisdom of the body.
New York: W.W. Norton.
Groddeck, G.
(2012). O livro disso (4ª ed.). São Paulo, Brasil: Perspectiva.
Lima, J. E. (30
de outubro de 2011). Aspectos Psicossomáticos da dor. Fonte: ABMP
Associação Brasileira de Medicina Psicossomática:
http://www.psicossomatica.org.br/blog/ler.asp?cod=60
Lima, J. E.
(2013). Currículo Lattes detalhado acessar o endereço:
http://lattes.cnpq.br/1292454437564950.